sexta-feira, 24 de abril de 2015

Soneto

É preciso saber por que se é triste
é preciso dizer esta tristeza
que nós calamos tantas vezes mas existe
tão inútil em nós tão portuguesa.

É preciso dizê-la é preciso despi-la
é preciso matá-la perguntando
porquê esta tristeza como e quando
e porquê tão submissa tão tranquila.

Esta tristeza que nos prende em sua teia
esta tristeza aranha esta negra tristeza
que não nos mata nem nos incendeia

antes em nós semeia esta vileza 
e envenena ao nascer qualquer ideia.
É preciso matar esta tristeza.

Manuel Alegre, 1965.

terça-feira, 16 de abril de 2013

MISSA DE CORPO AUSENTE



"Navegar ao sabor do vento, a paz, o sonho, a construção enérgica que tento"

Aminhapele nasceu hoje, faz uns anos, e procurou viver assim a sua vida.
Hoje não venho aqui escrever poesia. Nem prosa, sequer poética.
Só deixar uma saudade, citando poetas:  ele próprio e a ausência, segundo Drummond, em homenagem aos amigos brasileiros com quem parecemos ter tanta afinidade. Que ela continue aqui a trazer amigos, também, "maiores que o pensamento", como "o vento!


Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade


segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Correndo pro analista... (da série "Meus Queridos Cartunistas" )


Me dei-me a mim mesmo e à minha querida patroa, dois exemplares daquele iPod piquinininho, mas muito minimuzin, uma verdadeira joinha. Com preço de joia, é claro. Neste reveinhão completamos mais um ano de relação. Em colaboração à moral cristã, completo este ano 34 anos de casado, em três matrimônios e vários frilanceres. O atual tem agora 22 anos. O que o iPod tem a ver com isso? Bem, por observação empírica de casais nos restaurantes, bares, viagens, hotéis e salas de esperas diversas, casamentos longos ficam em silêncio. As pessoas não conversam mais. Devem ficar pensando em novas acusações ao companheiro/a, além daquele manjada frase feminina, que sempre serve de desculpa para tudo, da infidelidade ao alzaimer:
- Você nunca quer conversar! (e suas variações, com a inclusão de "discutir a relação"...).
Então, mais uma vez a tecnologia nos ajuda a atravessar essa fase, ou melhor, essa frase, que, dizem, dura sete anos e poucos casamentos sobrevivem a ela: o iPod. Som excelente, música de qualidade (afinal é você quem escolhe), e, comparando aos celulares, que estão cada vez maiores, o aparelhinho da Apple é invisível. A gente só vê o fio do auricular, e espero que a empresa jobsiniana suma com ele também. Assim, quando as palavras fugirem com o vento da idade, a música assumirá, finalmente, sua importância na vida dos humanos. Então, se a crise dos 21 é inevitável, relaxe e goze!

Ps: Em cumprimento às regras do último Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, estou escrevendo do jeito que falo. Enquanto falo...