Recebi um e-mail com diversos exemplos de calçadas ornamentais feitas com pedras portuguesas. Não apenas em Lisboa, mas em diversas cidades de Portugal, como Coimbra, Porto, Cascais, Setubal, Vieira do Castelo e também em Angola, Macau, Açores e Ilha da Madeira, os cidadãos pisam em obras de arte que os calceteiros portugueses espalharam pelo mundo. Engana-se quem pensa que, no Brasil, apenas a praia de Copacabana tem calçadas de mosaico português: vemos essa arte em Ipanema, Vila Isabel, Curitiba, Londrina, Brasília... Mas, olhando bem as fotos, senti falta de algumas coisas nas calçadas cariocas, além dos buracos causados pela péssima execução do serviço de instalação das pedras, que se soltam com facilidade e a natural ausência de manutenção por parte da prefeitura, que há muito já desistiu dessa função. Eu, carioca andante – mas não ambulante – estou acostumado a desviar de coco de cachorro, toalhas e barraquinhas de camelôs, assessores zoológicos, moradores de rua com diversos sotaques, fradinhos, bolas de ferro, distribuidores de papel reclame, malabaristas, músicos, automóveis, carrinhos de doces, flanelinhas, aprendizes de pastores e até políticos! Quem se lembrar de mais algum elemento decorativo das nossas calçadas que me refresque a memória. É claro que alguns desses bibelôs urbanos já fazem parte da cultura carioca, como os assessores zoológicos, mais conhecidos como bicheiros, os operadores do jogo do bicho, loteria inventada pelo Barão Drummond (João Batista Vianna Drummond) em 1892, quando teve cortada pelo governo a verba para manutenção do Jardim Zoológico sob sua administração. Uma nobre causa, vamos admitir. Flanelinhas são grileiros do espaço público urbano que a prefeitura tornou funcionários informais, uma categoria profissional que toma conta das ruas para explorar os motoristas. No romantismo do crepúsculo são substituídos pelos flanelinhas sem crachá, mas o efeito é o mesmo, talvez com um pouco mais de coação. O pior é que todos acham que dirigem melhor do que você. Fradinhos e bolas de ferro são geniais invenções das prefeituras para impedir que os automóveis subam nas calçadas para estacionar. Mais antigos, os fradinhos são colunas de pedra, de diversos formatos, que nos atingem as virilhas quando distraídos. Na primeira gestão do prefeito maluquinho – o atual alcaide da cidade - surgiram bolas de ferro incrustadas nas esquinas, com o mesmo objetivo. A vantagem é que o cidadão tropeça e cai de cara no chão - se tiver um pouco de indignação, pode processar a prefeitura depois. Geralmente não o faz porque sabe que vai ficar no prejuízo: no Brasil o governo é o primeiro a não cumprir as sentenças judiciais, que se transformam em precatórios e caem na vala negra do Calote Geral do Município, do Estado ou da União. Simples assim! E, não duvido nada: um prefeito mais maluco que o atual ainda vai mandar pintar as bolas de ferro como bolas de futebol, para promover a Copa do Mundo de 2014! Vai faltar gesso...
1 comentário:
Boa prosa, aí, seu Gerson!
(Boa prosa no melhor sentido do pt-pt, já que eu cuido que, em pt-br, o troço soa diferente...)
Gostei. Do conteúdo e da forma.
mc (moita carrasco)
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