terça-feira, 1 de abril de 2008

MEU CARO AMIGO

O que acontece no Rio de Janeiro, perguntou-me o Rui Lucas, lá de Coimbra, perante as notícias que chegam daqui, como uma terrível versão da carta de Caminha. Ora, meu caro amigo, o que poderia acontecer a uma cidade sem governo? Acontece que o Rio de Janeiro era a capital do país até 1974, quando o governo militar resolveu acabar com a festa, digo, o Estado da Guanabara, anexando a ele o Estado do Rio de Janeiro pra ver se seu partido predileto, a ARENA, conseguia eleger, pelo menos, um síndico de edifício. Foi sendo esvaziado economicamente, caiu em depressão culturalmente, faliu esportivamente, virou uma catástrofe socialmente: sem cultura, sem saúde, sem educação, sem produção. E uma enorme torcida acreditando que o Flamengo é o melhor time do mundo. Não dá pra viver num lugar com tamanha insalubridade. Virão os torcedores me ameaçar de vida, que jurado de morte estamos todos nós, seja pela violência, seja pelo mosquito da dengue, seja pelo trânsito, seja pelo sol ou pela chuva – não temos saída! E ninguém se manda? Bom, quem resolveu fugir pra Espanha foi devolvido pelo Serviço de Defesa do Consumidor da União Européia. Então eu imploro aos nossos companheiros europeus:
- Por favor, não devolvam mais o César Maia! Esse é o último ano em que o maluco estará à frente da prefeitura. Ninguém agüenta mais nem um dia, um minuto sequer. O Prefeito Maluco abandonou o barco, refugiou-se num Laptop, passou a governar através de um blog que só os seus asseclas acessam. Tenho certeza de que um vai logo me dizer: mas em 74 o Rio de Janeiro não era mais a capital do país há muito tempo! Engano seu, ora direi em nome das estrelas. Brasília, até então, era uma mistura de quartel com repartição pública. Nem roquenrol tinha ainda! Seus habitantes eram chamados de candangos, que, segundo a Wikipédia “é o termo dado aos trabalhadores que imigravam à futura capital para sua construção. De origem africana, Candango significa "ordinário", "ruim", e era a denominação que se dava aos trabalhadores que participaram da construção de Brasília”. O Rio ainda era a cidade dos sonhos, apesar da repressão política. E hoje? A cidade é apenas uma máquina de arrecadação, seja de impostos, seja de multas, seja de royalties do petróleo, mas ninguém sabe para onde vai esse dinheiro: não temos saúde, não temos educação, não temos segurança. Temos um radar em cada esquina, multando a torto e a direito, mais a torto do que a direito. Hoje vi algumas equipes fazendo manutenção dos radares em algumas ruas. O carioca precisando de serviços médicos e hospitais e o cara consertando pardais, que é como o carioca chama a lucrativa maquininha. Temos uma Guarda Municipal que ausenta-se das ruas na hora do almoço e do lanche da tarde. Só serve para bater em camelô e multar motoristas. Há umas duas semanas o prefeito maluquinho declarou que o seu sucessor ia herdar um dinheirão! E por que esse dinheiro não foi empregado ainda em saúde pública? Estamos ameaçados de morrer pela picada de um mosquito doméstico, um tipo que não sai de casa nem no carnaval, ali se alimenta, vê televisão, torce contra o Homem-Aranha e se reproduz. O macho não faz nada, é o que dizem, mas cumpre o seu dever. Alimenta-se de folhas, flores, lixo, essas coisas. A fêmea gosta de sangue. E é uma espécie de mosquinha tão moderna, que ao picar injeta uma anestesia na refeição, para não levar um tapão. Nessa anestesia está o vírus da dengue. O prefeito põe a culpa nos governos federal e estadual. Esse põe a culpa na população, que não se esforça para acabar com os focos do mosquito. O governo federal põe a culpa no... prefeito maluquinho! Ta todo mundo certo? Oh yés, como diria um turista ao receber sua caipirinha. Ninguém faz a sua parte. Simples assim. E o que é o Rio de Janeiro? Um lugar tão maravilhoso, que o tal mosquito, que antes só se reproduzia em água parada e limpa, está sofrendo uma mutação para suas larvas sobreviverem em água suja! Eles não querem mais ir embora! Pra quê? Está tudo beleza por aqui! Todo mundo é sangue bom, tem samba, futebol, sexo, drogas e até roquenrol: todos os roqueiros vieram morar aqui! Só a Rita Lee resiste à tentação e como um romário de guitarra na mão, já prometeu diversas vezes abandonar sumpaulo, mas, na hora H, vai ficando por lá mesmo, que aqui o mar não está prá peixe!

2 comentários:

Anónimo disse...

Boa crónica!
Óptimo repórter esse "seu" Gerson...

(Tenho-me apercebido de muitos brasileiros conscientes que sofrem "pra chuchu" com o desvario que vai por ali...)
mc

aminhapele disse...

Será que esse tal César Maia é "major" ou teve educação militar?