terça-feira, 13 de maio de 2008

TUDO VALE

Eu não queria entrar nesse assunto, mas já entrei: e o Ronaldinho, heimmm... O problema que ele arrumou, além da urgente necessidade de uma visita ao oftalmologista, indica outro maior, que a sociedade brasileira importou, alimenta e não está nem aí: celebritite aguda, enfermidade que torna o cidadão um escravo do desejo de tornar-se celebridade, objetivo profissional, social, mental e até vital de muita gente ligada na televisão e nas revistas que cultivam o culto às personalidades, sejam elas interessantes ou não. Ronaldo há muito tempo está se achando, ajudou o Brasil a perder duas Copas do Mundo – está certo, ganhou uma no meio, mas sem muito esforço, vamos reconhecer – alimentou a imprensa e os paparazzi com trocas sazonais de esposas, namoradas, automóveis, etc. Acabou sendo vítima de sua própria exposição, numa tentativa barata de extorsão por três travestis de esquina. Com essa aventura quase sexual levou no seu nocaute a torcida do mengão, que momentos antes gritava seu nome no Maracanã, como seu grande ídolo e torcedor símbolo e depois virou motivo de gozação de todo mundo. As torcidas adversárias ressuscitaram a Flagay! Para piorar a situação, o time do Flamengo conseguiu deixar para o América do México a classificação na Taça Libertadores da América, num jogo em que podia até perder por placar elástico, levando-se em conta que o jogo era no Maracanã, que a soberba torcida rubro-negra chama de seu. A celebritite aguda ataca a todos, sem discriminação de sexo, idade, profissão, crença, ideologia. Os partidos políticos descobriram nas Comissões Parlamentares de Inquérito um caminho seguro de tornar conhecidos e admirados dos mais nobres parlamentares aos mais obscuros suplentes de deputados ou senadores. Basta sentar na cadeira da sala especial para aparecer na televisão e garantir uma projeção nunca vista. E di grátis! O mesmo se dá na área da Justiça, onde os promotores, juízes, oops, perdão, desembargadores e advogados fazem a festa na mídia. Hoje em dia qualquer cidadão desconhece a escalação de seu time, mas sabe de cor a do Supremo Tribunal Federal. Afinal, leu seus e-mails pela TV, viu suas diversas entrevistas, talvez tenha até conversado no MSN. Essa verdadeira epidemia mundial alimenta uma indústria midiática de fazer inveja. Qualquer pessoa pode tornar-se celebridade, não mais por quinze minutos, como dizia Andy Warhol, mas por toda a vida, por uma foto numa revista, uma legenda de artigo de jornal, uma sorte ou azar qualquer. Os jogadores de futebol competem com o pessoal do cinema e televisão como as principais matérias primas dos produtos dessa máquina, que não perdoa ninguém e embala os sonhos da humanidade. As redes de televisão cultivam esse narcisismo glamoroso através dos programas “reality show”, cujos participantes viram celebridades instantâneas. E os big brothers da vida vão espalhando câmeras por todo o universo, em busca de uma calcinha planejadamente mostrada ou suprimida, um beijo escondido mas em público, um vacilo qualquer perante as câmeras. Tudo vale algum dinheiro nessa globalizada sociedade. É tudo $1,99!

1 comentário:

Anónimo disse...

O superego em "carne viva"...
Poder e celebridade por vezes fugazes... Mas, geralmente rentáveis...
"Sic transit gloria..."

mc