terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

29 de Março de 1974

á agora, e a propósito recordo: Decorria o I Encontro da Canção Portuguesa.
Tratava-se da «última grande manifestação cultural de massas do tempo da ditadura [que] aconteceu em Lisboa, a 29 de Março de 1974. Na véspera, Marcello Caetano dirigira aos telespectadores mais uma (a última) das suas "conversas em família" ['Conversas em família' era a designação das intervenções televisivas que Marcello Caetano efectuava regularmente. Tratava-se de discursos previamente escritos, mas lidos como se fossem improvisos. Para esse efeito, a RTP comprou o seu primeiro tele-ponto]. À noite, o Coliseu dos Recreios, abriu as portas para o primeiro e o mais histórico dos encontros ao vivo da música portuguesa. Organizado pela Casa da Imprensa, marcou de forma inequívoca o fim próximo do regime. José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire, Fausto, José Jorge Letria, Carlos Paredes, Fernando Tordo, José Barata Moura, Ary dos Santos e Vitorino são os nomes principais da "festa", autorizada depois de algumas diligências nada fáceis por parte da Casa da Imprensa. 

Com a lotação esgotada desde muitos dias antes, o Coliseu transforma-se num imenso coro de cinco mil vozes dispostas a cantar bem alto o outro lado da realidade permitida. Há agentes da Pide por todo o lado, ninguém o ignora. O espectáculo tarda a começar porque Adriano não tinha enviado os textos ao "exame prévio" da Censura. A situação acabará por resolver-se graças a dois censores "casualmente" de serviço na plateia do Coliseu que, ali mesmo, decidem quais os temas que podem ou não ser ouvidos. 

Quando finalmente tem início o "desfile", é a apoteose. Primeiro com alguns equívocos, como aconteceu durante a primeira parte da actuação de José Carlos Ary dos Santos, recebida com uma chuvada de apupos por parte do público. Mas a força da sua poesia impôs-se e quando debitou «SARL, SARL, a pança do patrão não lhe cabe na pele» já ninguém tinha dúvidas de que aquele homem era efectivamente dos nossos... 

Depois, foi o grande coro colectivo, a culminar com os cinco mil espectadores, de pé, a entoar os versos de Grândola Vila Morena, ironicamente a única canção de Zeca a passar integralmente as malhas da Censura. E é o seu grande impacto na noite de 29 de Março que irá determinar a sua escolha para senha do Movimento das Forças Armadas, na noite de 24 para 25 de Abril.»
[transcrito de um site da rede]


1 comentário:

Anónimo disse...

Só falta acrescentar que no momento era a voz de Adriano Correia de Oliveira que se ouvia.
mc