quinta-feira, 8 de março de 2012

mulher

Balada a uma velhinha
Num banco de jardim   uma velhinha
está só com a sombrinha
que é o seu pano de fundo.
Num banco de jardim   uma velhinha
está sózinha,não há coisa
mais triste neste mundo.
E apenas faz ternura,não faz pena,
não faz dó,
pois tem no rosto um resto de frescura.
Já coseu alpergatas e
bandeiras verdadeiras.
Amargou a pobreza até ao fundo.
Dos ossos fez as mesas e as cadeiras,
as maneiras
que a fazem estar sentada sobre o mundo.
No jardim   ela
à trepadeira das canseiras
das rugas onde o tempo
é mais profundo.
Num banco de jardim   uma velhinha
nunca mais estará sózinha,
o futuro está com ela,
e abrindo ao sol o negro da
sombrinha,poidinha,
o sol vem namorá-la da janela.
Se essa velhinha fosse
a mãe que eu quero,
a mãe que eu tinha,
não havia no mundo outra mais bela.
Num banco de jardim   uma velhinha
faz desenhos nas pedrinhas
que,afinal,são como eu.
Sabe que as dores que tem também são minhas,
são moínhas do filho a desbravar que Deus lhe deu.
E,em volta do seu banco,os
malmequeres e as andorinhas
provam que a minha mãe nunca morreu.


de Ary dos Santos

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