quinta-feira, 10 de abril de 2008

A PAIXÃO PELAS MAGRELAS

Fiz essa foto na estação ferroviária de Tours, na França

Andar de bicicleta ninguém esquece. É como dirigir, quem disser que esqueceu, nunca aprendeu. Uma das poucas lembranças que tenho da infância tijucana é da minha pequena bicicleta, com a qual me divertia em frente ao edifício na Rua General Roca, onde eu morava. Tinha um estacionamento, com chão de terra, apesar de o prédio ter garagem. Nem precisava, mas hoje é fundamental: derrubaram as mangueiras que habitavam o local e agora é uma das ruas mais movimentadas e engarrafadas do bairro. Essas mangueiras, carregadas de manga-espada, fazem parte até hoje do meu ideal de vida: junto à natureza, alimentação saudável e, de preferência, uma cachoeira no quintal. O resto, a gente arruma, pedalando rumo à venda mais próxima. Mas a lembrança à qual me referia e acabei esquecendo no meio da Tijuca, foi um tombo, é claro - não sabia frear direito e fui parar no muro. Nada de grave, apenas um choro danado e um galo na cabeça. A paixão pela magrela vem desde aí. Não me tornei um atleta olímpico sobre as duas rodas, mas sempre gostei de pedalar. Na adolescência, era meu meio de transporte favorito para freqüentar as praias, do Leme ao Leblon (que me perdoe o Tim Maia, o Pontal naquele tempo era uma espécie de viagem misteriosa, com doses de pecado e aventura). Minha segunda magrela foi uma Mercswiss, de tamanho médio, verde folha de mangueira. Ganhei de Natal e durou bastante. Levei quedas homéricas, no Rio ou em Paquetá. Mas era só levantar, sacudir a poeira e continuar. Descia a ladeira do Sétimo Céu em disparada, subia novamente a reboque de algum caminhão. Hoje estaria morto na primeira curva. A verdinha ficou pequena e nem sei que fim levou - sumiu na adultescência, quando comecei a namorar, a viajar sozinho, sem família por perto. As bicicletas passaram a ser chamadas de camelo e ficaram restritas a uma tribo mais alternativa. Passei a camelar de fusca mesmo, que era mais confortável e ia até para sumpaulo!

A bicicleta seguinte veio já nos anos oitenta, quando fui morar no Piauí e precisava percorrer as ruas de Parnaíba procurando casa para alugar. Na primeira semana comprei uma Peugeot de três marchas e foi meu veículo predileto naquela bela cidade. Essa bicicleta me acompanhou em Campinas, onde usei pouco por preguiça de enfrentar as ladeiras. Quando voltei pro Rio, mandei reformar e voltei a pedalar pelas ciclovias e ruas do sul da zona sul. Com o sucesso dos modelos Mountain Bike e o surgimento das ciclovias, onde o carioca adora andar a pé, minha pejôzinha ainda rodou muito, mas ganhou uma rival, de 18 marchas e mais esbelta, de fabricação suíça. São minhas duas companheiras até hoje. Como meu peso aumentou significativamente nos últimos tempos, elas passaram a substituir a academia de ginástica, pois um passeio numa delas reúne exercício aeróbico e musculação!

Fico pensando na criação de vários bicicletários na cidade, junto às estações de metrô, a terminais de ônibus e trens, novo projeto da prefeitura maluquinha. Ou será do governador viajantinho? Em vários lugares do mundo a utilização de bicicletas como principal veículo de locomoção urbana é normal. Mas no Rio de Janeiro, vamos falar sério: eu não acredito que se torne prática habitual, mesmo com todos os benefícios, principalmente para a saúde, o bolso e o meio-ambiente. Aqui o espaço nas ciclovias é disputado a tapas com pedestres e os mais variados tipos de veículos. Pedalar ao centro da cidade com quarenta graus à sombra, respirando e assimilando na pele e nos pulmões a poluição dos carros, ônibus, caminhões, motos, lambretas, vans e outros bichos motorizados,e com emissão de gases à vontade, enfrentando a violência do trânsito e dos assaltos a ciclistas e, depois de trabalhar oito horas, voltar pelos mesmos problemas, não é nem pra leão. Nas vezes em que trabalhei na zona sul, perto de casa, pensei em utilizar a bicicleta. Só pensei. Ou chovia ou fazia sol demais. Ou eu estava atrasado. Ou o pneu estava vazio. Ou...

Apesar da minha descrença, paixão é paixão. Um dia desses, passando por uma loja especializada vi uma magrela pretinha, de alumínio, cheia de borogodós, só falta falar. Meu coração bateu mais forte, acho que minha infidelidade mais uma vez vai abalar meu harém de modernos celeríferos...

1 comentário:

aminhapele disse...

Afinal,explicas completamente o nome do teu blog: CICLOVIA.
Pedala.Gerson!
Um abraço.