quinta-feira, 16 de setembro de 2010

DÁLIA

Dália era a rapariga mais bonita do Caveiral.
Bonita em todos os sentidos:era amada por toda a gente,por estar sempre disponível para ajudar;desde muito miuda aprendeu todos os trabalhos de campo e,com sua avó,aprendeu os segredos da boa cozinha;estudou enquanto lhe foi possível,ao mesmo tempo que se tornou uma estrela da Filamórnica,dos Bombeiros e dos bailaricos.Com ajuda do senhor padre,terminou o Liceu e candidatou-se à Universidade.
Ela e o namorado,o Asdrúbal,eram o casal mais bonito do Caveiral.
O Asdrúbal,filho de boas famílias,lá foi estudar Medicina para a grande cidade.
Dália,filha dos caseiros da grande família,poderia ir para uma Universidade mais afastada do Caveiral,o que implicaria despesas incomportáveis.
Assim,Dália resolveu abandonar os estudos e ir trabalhar.
Foi para a empresa dos pais do Asdrúbal e recomendada especialmente ao gerente,o Natário,que Dália tratava cerimoniosamente por "Dr."Natário.
No escritório,Dália aprendeu a tirar cafés,fotocópias e o lixo do chão.As duas senhoras que lá trabalhavam,quase nos 40 anos,nunca a trataram como colega.
Dália era uma espécie de rapariga da limpeza e dos recados,que estava ali por caridade do tal "Dr."Natário.
Dália andava triste.Asdrúbal nem nas férias aparecia...
O que é certo é que Dália espalhava alegria e nem o Natário resistiu!
Dália,a pretexto dos cafés,passava mais tempo no gabinete.Ia aparecendo com roupas novas e bonitas.Logo ela,a quem qualquer trapo assentava bem...
Passou a ter horários diferentes:entrava muito mais tarde(transportada pelo motorista do Natário) e deixou de fazer limpezas.
Do gabinete,chamava uma "velha" e,com natariana autoridade,ordenava-lhe que lhe fosse comprar cigarros...
Um dia Dália "apareceu" estranhamente gorda e começou a ter vómitos...Uma das "velhas" mandou-a levar a casa(a casa do Natário) e a Dália desapareceu por uns tempos.
O Natário andava intratável e pior ficou quando uma inspecção na empresa lhe fez perguntas sobre a contabilidade...
Dália,no Hospital,trazia uma filha à luz do dia.
Questionada sobre o pai falou no "Dr."Natário.
Mandado chamar,o Natário já não apareceu.
A empresa tinha falido e o homem desapareceu...
Abreviando:
Soube-se mais tarde que Natário tinha sido morto num país africano quando se envolveu em mais um negócio para aldrabar alguém.
Asdrúbal é um cirurgião altamente cotado na comunidade gay de um país sul americano.
Dália,ajudada pela filha,é uma das poucas habitantes do Caveiral,vivendo na velha casa de granito dos avós e fazendo agricultura de subsistência.
Tem a sua horta,o seu porco e as suas cabras.
Continua a ser uma mulher muito bonita.
A filha,este ano,é caloira de Medicina numa Universidade pública.
Um beijo,Dália.

1 comentário:

olinda Rafael disse...

Maravilhosa esta Dália...
Enternecedora história!