quarta-feira, 19 de setembro de 2007

AS LUZES DE NAMBUANGONGO


Brilham as luzes de Nambuangongo
que de longe parece perto e perto
parecem longe porque são assim as luzes
nos olhos dos soldados quando à noite
vão de Quipedro a Nambuangongo.

Não vás pensar que são as luzes da tua aldeia.
Não há lugar em Nambuangongo
para a ternura da tua aldeia.
Brilham na noite camarada são enganos
não vás pensar que são as luzes da tua aldeia.

Amigo escuta se acontecer
teres saudades fecha os teus olhos
não queiras ver as luzes que são longe e perto
e perto e longe não queiras ver
amigo as luzes de Nambuangongo.

Eu sei que custa.Dentro de ti
há outras luzes que nãosão luzes de Nambuangongo.
E a bala espreita eu sei que custa
posso ser eu podes ser tu
entre Quipedro e Nambuangongo.

E há outras luzes noutros caminhos doutras aldeias.
Essas porém não são as luzes que nos esperam.
E não verás rostos amados.E não terás
um fogo ardendo para ti que vens de longe.
Ninguém lá onde brilham as luzes para ninguém.

Brilham na noite camaradas e são enganos
ai são enganos essas luzes perto e longe.
Dentro de ti uma candeia.E não verás
rostos amados.Fecha os teus olhos camarada
são só as luzes de Nambuangongo.

Morrer podemos.Mas não chorar.Lágrimas?
Só essas lágrimas que ao longe brilham
lágrimas luzes de Nambuangongo.Choram por nós
brilham por nós mas são enganos camarada
não são as luzes da tua aldeia.

Manuel Alegre,A Praça da Canção

2 comentários:

Espaços abertos.. disse...

Um reviver de algumas décadas atrás,marcando a época da guerra colonial,como só Manuel alegre o consegue.
Bjs Zita

Anónimo disse...

Gostei de reler.
É sempre bom lembrar.