é bonito, é bonito... como dizia Caymmi do mar da Bahia.
Na esquina de Av. Epitácio Pessoa com Rua Visconde de Pirajá, na fronteira de Ipanema com o Leblon, fica o Jardim de Alá, que se estende nas margens do canal que liga a praia de Ipanema à Lagoa Rodrigo de Freitas. Um dos mais bonitos espaços públicos do Rio de Janeiro, infelizmente também um dos mais abandonados. Existem razões para tal abandono, mas fica para outra postagem. Na esquina mencionada não tinha nenhum clube cheio de mineiros cantando, mas sim um bar chamado Garden, que era uma espécie de nosso escritório. Era um excelente restaurante, não era badalado como os bares de Ipanema ou Copacabana, tinha um chope honesto e garçons pacientes. Ele ainda existe, agora mais sofisticado, com a varanda fechada para os passarinhos que cantavam quando o sol chegava ou ia embora. Certa noite cheguei ao Garden e fui presenteado pelo meu parceiro Mello com um poema que ele havia escrito e não estava animado para musicar. Peguei o papel datilografado, coloquei na bolsa de couro que sempre me acompanha e continuamos a noite etílica, que parceria não se discute na frente de estranhos, é coisa séria e particular entre os parceiros - os demais são estrangeiros nessa praia. De madrugada, ao chegar em casa, peguei o violão para me lembrar de uma canção que estava compondo há alguns dias e... É isso mesmo que você pensou, caro leitor: a letra casou direitinho com ela. Fiz apenas uma inversão de frase, mais pelo sentido do que pela melodia, e incluí o refrão final, que até hoje me causa dúvidas quanto à necessidade da letra.
GOIABAS
Pra onde foram os gritos
Os gemidos e ais
Das noites quentes
De verão
E o sussurro do vento?
Olhos em brasa, faróis
Um frio no coração
E se lembra das noitadas
Do pula-muro e tropeça
Das goiabas
De São João
Do guarda-noturno apitando
O trem da noite mostrando
A tua rota de fuga, ladrão
Cães latindo, latindo bem longe
Cacos de vidro no chão
Sutiã cheirando a Phebo.
Quem falou mais alto
E calou tua cancao
Quem roubou a festa
Quem matou seu coração
1 comentário:
Ah, que lembrança boa!
Foi no Garden que vi Milton Nascimento e sua turma (idos de 80), talvez do Clube da Esquina, almoçando bem do meu lado e, como sempre, não tive coragem de pedir um autógrafo, nem dizer-lhe o quanto admirava sua música. Disse isso através do meu olhar carinhoso.
Pois, você, também está se saindo um belo compositor. Parabéns!
abs carioca
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