sexta-feira, 26 de junho de 2009

PLANO DE CARREIRA

Falando em currículo (vide o blog POESIA, do pedecaprino Rui Lucas), aviso que comecei minha vida profissional trabalhando em criação publicitária. Fui empre-gado, de carteira assinada e tudo, em algumas agências - na última me chamaram de diretor de criação, contra a minha vontade. Era redator e não queria ser nada além disso, apesar de fazer um monte de outras coisas no dia a dia da propaganda - da revisão dos próprios textos, um perigo para a Gramática, à criação e gravação de jingles, direção de fotografias, criação de embalagens - eu não fugia da rinha, mesmo não entendendo nada do assunto em alguns casos, nos quais, sinceramente, não fui tão mal assim. Pra mim tudo era aprendizado e divertimento. Apesar de meus conflitos ideológicos com relação à publicidade - acho que eu era o último combatente à sociedade de consumo nos estertores dos anos 70 - gostava daquilo. O que haveria em comum às duas profissões que exerci na vida? A máquina de escrever. Tanto nas agências de publicidade quanto nas bancárias, lidei com elas sempre com carinho, mesmo produzindo textos tão diferentes. Foram minhas namoradas, companheiras de angústia e tédio, criação e rotina, poesia e números. E isso acontece até hoje, quando descubro que demorei muito a entender o que os teclados queriam me dizer:
- Olha aqui, rapaz. Nós só imprimimos o que você quer escrever. Não adianta achar que vamos trabalhar por você. Portanto, pode bater à vontade nas letras com essas unhas antiecológicas. Mas não diga depois que a culpa foi nossa!

Esse é o engano de muita gente quando senta na frente de um “personal computer”. Acha que a maquineta vai resolver tudo, com alguns cliques em seus programas maravilhosos. Um dos que sabe que a coisa não é assim, meu amigo Zé Mei mandou-me um texto que esclarece muito bem um elemento administrativo nas empresas brasileiras, principalmente as estatais e o funcionalismo público: o Plano de Carreira. Só ouvi falar dele quando mudei de profissão e me mandei , em 1980 – quando? - pro litoral do nordeste brasileiro. Encontrei alguns turistas europeus em férias, empresários oportunistas e outros malandros perambulando naquelas areias paradisíacas, em busca de paz e fortuna fácil. Queriam continuar a nos vender espelhinhos. Cheguei lá antes do Michael Jackson. O que se ouvia nos rádios era música brasileira, forró e brega, Luiz Gonzaga e Waldick Soriano. Minha televisão era Black&White – até hoje prefiro o uísque. Vamos ao Zé Mei, que conhece o funcionamento do Cunhadão melhor do que ninguém:

“Um sujeito vai visitar um amigo deputado federal e aproveita para lhe pedir um emprego para o seu filho que tinha acabado de completar o supletivo do 1º grau.

- Eu tenho uma vaga de assessor, só que o salário não é muito bom...

- Quanto doutor?

- Pouco mais de 10 mil reais!

- Dez Mil!!!!???? Mas é muito dinheiro para o garoto! Ele não vai saber o que fazer com tudo isso não, doutor!!!! Não tem uma vaguinha mais modesta?

- Só se for para trabalhar na assembléia. Meio período e eles estão pagando só 7 mil!

- Ainda é muito doutor! Isso vai acabar estragando o menino!

- Bom, então tenho uma de consultor. Estão pagando 5 mil reais por mês, serve?

- Isso tudo é muito ainda, doutor. O Senhor não tem um emprego que pagasse uns mil e quinhentos ou até dois mil reais???

- Ter eu até que tenho, mas aí é só por concurso e é para quem tem curso superior, pós-graduação ou mestrado, bons conhecimentos em informática, domínio da língua portuguesa, fluência em inglês e espanhol e conhecimentos gerais, Direito Constitucional, Direito Administrativo, Lei 8.112/90, Matemática e Raciocínio Lógico... além do mais, ele terá que COMPARECER AO TRABALHO de Segunda a Sexta...”

Salut!

Ps: Tá bom, minha senhora,essa piada é velha. Mas o que é novo nesse ramo?
Ps2: o "adress" do blog Poesia é:
http://poesia-aminhapele.blogspot.com/
Imagem pescada no blog Sinopse Inacabada, do irrequieto José Vitor Rack.
Endereço: http://sinopseinacabada.blogspot.com/

3 comentários:

Maria disse...

Adorei. A história, a piada e o poema. A conjugação da piada com o poema dariam uma boa soap na televisão. Não quer voltar a pegar na máquina de escrever?
:-)

Gerson Deslandes disse...

Já voltei, não à máquina de escrever, mas ao teclado para fins não lucrativos. Meu sonho era achar uma elétrica IBM82, com fita corretiva, e levar para minha cabana do Vale das Flores. Mãs sei que se encontrar a máquina, não encontrarei a fita ou a esfera ou um técnico para conserta-la. Se conseguir voltar ao macintosh já vai ser muito bom. PC não inspira ninguém...

aminhapele disse...

Vou contar-te um segredo,Gerson.
Essa IBM de que falas,foi o último utensílio a que tive direito,de alta tecnologia,quando estava no activo.
Para lá disso,dispunha de uns "terminais" de consulta a que chamávamos "computador"...
Poucos meses antes de saír,e passar a reformado,começaram a instalar os computadores.
Então oferecerem as IBM's.Eu não quis ficar com nenhuma.Trouxe,apenas de recordação,uma cabeça(a esfera) que já não me lembro que tipo de letra tinha.
A esfera deve andar por aqui,nalguma gaveta,mas há anos que não a vejo...
Um abraço.