sábado, 28 de fevereiro de 2009
CARNAVAL 2009
Carnaval? O que é isso? Ah, um bloco de 20 mil pessoas encharcadas de cerveja e pulando pelas ruas da zona sul do Rio de Janeiro durante uma semana, mijando em todos os postes, automóveis, jardins, muros, portarias de prédios sem porteiro, bancas de jornal, portas metálicas de lojas fechadas e por aí vai. O bloco passa e o cheiro de urina invade os lares e narizes sobreviventes. Apesar de ainda tímicas, as meninas - algumas já passadas dos 50 - começam a seguir o exemplo masculino, aumentando a inveja do penis e deixando cair seu liquido precioso nos meios fios, entre dois carros. Nós também começamos assim, atrás de árvores, postes, muros, becos. Agora virou zona. Mas não era desse jeito. Comecei a gostar de carnaval de rua quando inventaram a Banda de Ipanema. Era minha única diversão carnavalesca.Várias bandas surgiram e desapareceram depois dela que continua até hoje, num desfile da democracia social, sexual, religiosa, futebolística etc. As demais bandas sumiram na poeira de confetes. Durante anos brinquei na Banda de Ipanema - hoje já se está acostumando a dizer "desfilei no bloco tal", como se diz nas escolas de samba. Não me lembro de ter mijado em nenhum poste, nenhum carro, nenhum muro. Os botequins não fechavam seus banheiros para os foliões, a banda passava pela principal rua do bairro e o comércio ficava aberto. Se a coisa ficava preta, uma corrida até o mar resolvia a questão e ainda nos refrescava - voltávamos com as forças renovadas! Depois fiquei alguns anos fora do Rio e quando voltei a Banda de Ipanema já estava gigantesca demais para o meu gosto. E os blocos? Sempre existiram e foi graças a eles que a tradição do carnaval se consolidou. Alguns deles foram a origem de escolas de samba, outros continuaram blocos, como o Bafo da Onça e o Cacique de Ramos. Os novos blocos, em seus primeiros passos, ainda permitiam brincar o carnaval com alguma qualidade. O "Simpatia É Quase Amor", que acompanhei no início, completou 1/4 de século com mais de 20 mil pessoas na rua. Há alguns anos eu prefiro aquela rede de que tanto falo, a Cachoeira das Antas, a conversa com Dona Zezé e a beira do fogão de lenha. Acompanho de longe o engarrafamento das ruas, a violência, a falta de respeito pela propriedade alheia e pelos bens públicos, o caos urbano em que se transformou o carnaval. Acho que vou procurar os livros do Burns para relembrar as quedas dos impérios através dos tempos - tudo isso está me deixando um gostinho de déjà-vu!
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2 comentários:
Bom texto,Gerson.
Eu também preferiria o Vale das Flores à confusão do Rio,durante o Carnaval.
:)
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