domingo, 27 de dezembro de 2009

UM SEM ABRIGO COM TETO




Após o Natal,lembrei-me de ir visitar(almoçar) com um amigo.
O Xóné(nome decriança) é uma espécie de sem abrigo,com teto.
Viveu montes de anos na Holanda,tornou-se um escultor de referência(dentro do seu estilo,trabalhou a pedra e os metais como ninguém).
Reformou-se aos 60 e regressou a Portugal.
Durante dois meses foi tudo eferreá!Notícias nos jornais,entrevistas nas televisões,etc.
O Xoné instalou-se na sua velha casa e pretendeu ter uma velhice à sua maneira...
Divorciado há muito,tinha um casal de filhos que raramente o contactavam.
Quando se instalou,começaram os problemas:filhos e netos(que ele nem conhecia) pretenderam tomar "conta" dele!Ele bem os tentava enxotar...
Até que,com a morte da ex-mulher,começaram os problemas sérios:partilhas e derivados.
Xoné deu tudo.Só queria que o deixassem em paz,na sua velha casa.
Aqui,o problema agravou-se.
Os filhos pretendiam que ele saísse de casa e eles custeavam-lhe um "lar"!
Ao Xoné deu "uma coisa" e,durante dois anos,esteve pregado numa cadeira de rodas.
Entretanto,um amigo advogado,garantiu-lhe a propriedade da sua casa com a garagem e o quintal anexo.
Xoné,com a sua opípera "pensão" holandesa,até vive bem.
Durante o tempo de hospitalização ganhou novos amigos e,alguns,bem importantes na sua vida actual(liberto da cadeira de rodas):aprendeu,com um colega hospitalizado,artesão de madeira e de cortiça,a utilizar novos materiais;uma das colegas de hospitalização,agricultora das redondezas,trata-lhe agora do quintal.
Deu o carro(um BMW,linha 5) e fez da garagem a sua oficina.
Tem peças maravilhosas em madeira e em cortiça.
Continua com a sua bela arte para cozinhar.
Hoje o nosso almoço,para o qual só levei o vinho,foi uma grãozada com uma grande terrina de grelos a acompanhar.
Uma velha aparelhagem,com prato para 12 LP's,deu-nos a música de fundo.
Não me deixou tirar fotografias,nem (diga-se) seriam necessárias.
Quando me vim embora,com um Porto velho,brindámos.
O Xoné disse: QUE VIVA A HOLANDA!
Bom Ano,Xoné!

2 comentários:

Manuela Curado disse...

A foto é o que menos importa.
Em relevo... um profundo sentimento de fraternidade.
Esse! Sim...invejo-o

Maria disse...

Amigos dos meus amigos, meus amigos são! Já estou curiosa! :-)
Farto-me de dizer que a realidade consegue - para o bem e para o mal - deixar a ficção a milhas, e este é o exemplo acabado de que o Natal é todos os dias, ou sempre que um homem quiser! Beijinhos grandes!