Partilho convosco uma história de hoje,no almoço mensal do meu grupo de amigos.
Um dos nossos amigos,por sinal um dos grandes animadores pelos seus dotes para dizer poesia,contar anedotas e tocar saxofone não aparecia aos almoços desde Novembro.
Nada que nos preocupasse pois tínhamos contacto frequente,quer por telefone quer por mail.
Hoje reapareceu.O almoço foi uma festa ainda maior e,após a parte de animação,há sempre dois ou três que ficam à conversa.
Então o meu amigo,retirou a máscara de alegria,de animação e de descontracção que manteve até aí e,de rosto carregado,contou-nos o motivo das suas ausências.
Ele é avô,o que é frequente na nossa idade.
Está reformado há três anos e,na vida activa,como funcionário teve sempre cargos de chefia e como patrão foi o dono único da sua própria empresa.
Nunca teve problemas económicos na vida.Além de ter sempre ganho bastante dinheiro,a esposa é médica privada de uma especialidade infelizmente com grande procura e que tem um consultório com lista de espera.
Este amigo sempre gostou de usufruir dos pequenos prazeres da vida:boa mesa,boa instalação,boa música,bom teatro,etc.
Sempre defendeu a qualidade contra a quantidade.
Quando se reformou passou a utilizar o tempo na pesca,na música(é um bom executante de piano e de saxofone),em boas refeições de convívio com os amigos.
Em Outubro passado,começaram os problemas dele.
Tem dois netos:um de 13 e outro de 15 anos.
Até aí ele era o melhor avô do mundo.
Por motivos da vida,em Outubro passado ele passou a ser a ama seca dos netos.
Começou por ter que os ir buscar ao colégio,embora o mais velho esteja a 50 metros de casa.
Depois tinha que os ir levar e trazer aos "tempos livres",dar-lhes de jantar e esperar até cerca das 10 da noite que os pais tomassem conta dos rebentos.
A coisa foi evoluindo,até que ele passou a ter a obrigação de se levantar de manhã,levar os netos ao colégio,etc.etc.
Depois,os pais também têm que descansar aos fins de semana e ele tem que estar com as criancinhas ao fim de semana.
Hoje os miudos vêem no avô um carcereiro.
O avô quer é ver-se livre dos netos.
Apareceu hoje,porque os miudos estão a passar dois meses num colégio inglês e ele anda a convencer a mulher a fechar o consultório e pisgarem-se os dois para uma Volta ao Mundo.
Nem sempre são pacíficas estas relações com netos!
2 comentários:
Sei, por experiência alheia, na minha própria família, do que é ser uma avó "profissional".
Sou avô, por muita devoção. Felizmente ainda não por obrigação.
Avós recentes que somos (a Teresa e eu), creio que podemos contribuir para um certo alívio dos filhos e noras, em fase bem activa de trabalho. Nós e os outros avós, do outro lado. Não nos demos conta de abusos. Nem acreditamos que eles aconteçam.
Mas percebi bem o drama e a exaustão desses avós de que fala.
Como em tudo, não há apenas o oito ou o oitenta. Claro que há o 35, o 39 e o 41.
mc
Coitados desses avós.
Como costumo dizer, Deus não distribuiu o Bom Senso de maneira equitativa e este parece-me ser uma caso flagrante.
Um abraço.
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