terça-feira, 12 de junho de 2007

AVÔ


Partilho convosco uma história de hoje,no almoço mensal do meu grupo de amigos.

Um dos nossos amigos,por sinal um dos grandes animadores pelos seus dotes para dizer poesia,contar anedotas e tocar saxofone não aparecia aos almoços desde Novembro.

Nada que nos preocupasse pois tínhamos contacto frequente,quer por telefone quer por mail.

Hoje reapareceu.O almoço foi uma festa ainda maior e,após a parte de animação,há sempre dois ou três que ficam à conversa.

Então o meu amigo,retirou a máscara de alegria,de animação e de descontracção que manteve até aí e,de rosto carregado,contou-nos o motivo das suas ausências.

Ele é avô,o que é frequente na nossa idade.

Está reformado há três anos e,na vida activa,como funcionário teve sempre cargos de chefia e como patrão foi o dono único da sua própria empresa.

Nunca teve problemas económicos na vida.Além de ter sempre ganho bastante dinheiro,a esposa é médica privada de uma especialidade infelizmente com grande procura e que tem um consultório com lista de espera.

Este amigo sempre gostou de usufruir dos pequenos prazeres da vida:boa mesa,boa instalação,boa música,bom teatro,etc.

Sempre defendeu a qualidade contra a quantidade.

Quando se reformou passou a utilizar o tempo na pesca,na música(é um bom executante de piano e de saxofone),em boas refeições de convívio com os amigos.

Em Outubro passado,começaram os problemas dele.

Tem dois netos:um de 13 e outro de 15 anos.

Até aí ele era o melhor avô do mundo.

Por motivos da vida,em Outubro passado ele passou a ser a ama seca dos netos.

Começou por ter que os ir buscar ao colégio,embora o mais velho esteja a 50 metros de casa.

Depois tinha que os ir levar e trazer aos "tempos livres",dar-lhes de jantar e esperar até cerca das 10 da noite que os pais tomassem conta dos rebentos.

A coisa foi evoluindo,até que ele passou a ter a obrigação de se levantar de manhã,levar os netos ao colégio,etc.etc.

Depois,os pais também têm que descansar aos fins de semana e ele tem que estar com as criancinhas ao fim de semana.

Hoje os miudos vêem no avô um carcereiro.

O avô quer é ver-se livre dos netos.

Apareceu hoje,porque os miudos estão a passar dois meses num colégio inglês e ele anda a convencer a mulher a fechar o consultório e pisgarem-se os dois para uma Volta ao Mundo.

Nem sempre são pacíficas estas relações com netos!

2 comentários:

Anónimo disse...

Sei, por experiência alheia, na minha própria família, do que é ser uma avó "profissional".
Sou avô, por muita devoção. Felizmente ainda não por obrigação.
Avós recentes que somos (a Teresa e eu), creio que podemos contribuir para um certo alívio dos filhos e noras, em fase bem activa de trabalho. Nós e os outros avós, do outro lado. Não nos demos conta de abusos. Nem acreditamos que eles aconteçam.
Mas percebi bem o drama e a exaustão desses avós de que fala.
Como em tudo, não há apenas o oito ou o oitenta. Claro que há o 35, o 39 e o 41.
mc

Tozé Franco disse...

Coitados desses avós.
Como costumo dizer, Deus não distribuiu o Bom Senso de maneira equitativa e este parece-me ser uma caso flagrante.
Um abraço.