
Todo mundo sabe que Zé Mei não engravidou, portanto, não teve filhos. Mas teve. Pegou dois emprestados, ambos do sexo masculino, que carinhosamente apelidou de Edipinhos. -O mais interessante foi entender as moças, já longe da infância, se é que mulher tem infância – disse o Zé Mei no terceiro chope que tomamos naquele botequim perto de casa. E continuou – Na minha modesta opinião (e abro parênteses, em local proibido, para acrescentar que, perante as mulheres, nossas opiniões serão sempre modestíssimas) brincar de boneca é treinamento intensivo, de casinha é pós-graduação – as mulheres já nascem adultas. Ou assim ficam com uma semana de vida, quando descobrem que basta mamar em algum lugar, humano ou de borracha, para sobreviver e esperar um pouco para ter a sua própria cria. Alguns meses depois de iniciado o namoro eu ganhei o primeiro presente do Dia dos Pais. Que beleza! É claro que nem me lembro mais o que era, sou homem! Ela tem guardada a colherzinha do primeiro sorvete que tomamos no Bob’s com os meninos. Até hoje não sei como ela pegou e guardou o pequeno objeto inútil, deve ter sido debaixo do banco do carro. Como ela sabe que era a minha? Talvez pelo resto de sorvete de café que tinha no copinho – eu sou organizado, pô.
Conversar com o Zé Mei é bom porque a gente nem precisa falar. Ele já vem com um assunto preparado, diagramado e ilustrado. A gente só bebe, o que é bastante prático.
- O tempo foi passando e os meninos “cada vez mais bonitos” (- Mesmo com aquele buço horroroso?) “mais inteligentes” (- Mesmo vendo televisão 23 horas por dia? – a hora restante é no banheiro) “mais educado” (- O que é aquilo ali na geladeira? Uma cueca?). E vai a vida, e tome dias dos pais, dias das mães, dos avôs...
- Antigamente a gente podia sair para jantar e tomar uma taça de vinho, ou uma caipirinha. Agora é proibido, mas naquele tempo a gente chegava em casa no maior clima romântico e tinha uma espécie de cadáver respirando no sofá, televisão a mil por hora num programa de luta livre ou horror parecido. A cada ronco um aroma etílico aumentava a camada de ozônio. Na hora de me vestir para trabalhar, só meias furadas na minha gaveta. (- Ah, liga não, devo ter me enganado, pensei que eram dos meninos! – que nessa altura já calçavam mais do que eu...) Zé Mei sempre disse que não existe “Dia dos Irmãos” prá gente não ter que comprar presente prá cunhado. E continuou sua explanação sobre o dia dos Pais, que ele nem era: - Quando me aposentei, eu ganhei de presente dos meninos um novo modelo de bicicleta. É linda né não? – e tirou a foto da carteira para me mostrar. Confisquei imediatamente a imagem e estava pronta a minha crônica pro Dia dos Pais com quase uma semana de antecedência...
2 comentários:
kakakakka
Que figuraça!
Rolei de rir com o texto, muito bom.
Escrita gostosa, a de seu Gerson.
mc
Enviar um comentário