terça-feira, 5 de agosto de 2008
DIA DOS PAIS
Todo mundo sabe que Zé Mei não engravidou, portanto, não teve filhos. Mas teve. Pegou dois emprestados, ambos do sexo masculino, que carinhosamente apelidou de Edipinhos. -O mais interessante foi entender as moças, já longe da infância, se é que mulher tem infância – disse o Zé Mei no terceiro chope que tomamos naquele botequim perto de casa. E continuou – Na minha modesta opinião (e abro parênteses, em local proibido, para acrescentar que, perante as mulheres, nossas opiniões serão sempre modestíssimas) brincar de boneca é treinamento intensivo, de casinha é pós-graduação – as mulheres já nascem adultas. Ou assim ficam com uma semana de vida, quando descobrem que basta mamar em algum lugar, humano ou de borracha, para sobreviver e esperar um pouco para ter a sua própria cria. Alguns meses depois de iniciado o namoro eu ganhei o primeiro presente do Dia dos Pais. Que beleza! É claro que nem me lembro mais o que era, sou homem! Ela tem guardada a colherzinha do primeiro sorvete que tomamos no Bob’s com os meninos. Até hoje não sei como ela pegou e guardou o pequeno objeto inútil, deve ter sido debaixo do banco do carro. Como ela sabe que era a minha? Talvez pelo resto de sorvete de café que tinha no copinho – eu sou organizado, pô.
Conversar com o Zé Mei é bom porque a gente nem precisa falar. Ele já vem com um assunto preparado, diagramado e ilustrado. A gente só bebe, o que é bastante prático.
- O tempo foi passando e os meninos “cada vez mais bonitos” (- Mesmo com aquele buço horroroso?) “mais inteligentes” (- Mesmo vendo televisão 23 horas por dia? – a hora restante é no banheiro) “mais educado” (- O que é aquilo ali na geladeira? Uma cueca?). E vai a vida, e tome dias dos pais, dias das mães, dos avôs...
- Antigamente a gente podia sair para jantar e tomar uma taça de vinho, ou uma caipirinha. Agora é proibido, mas naquele tempo a gente chegava em casa no maior clima romântico e tinha uma espécie de cadáver respirando no sofá, televisão a mil por hora num programa de luta livre ou horror parecido. A cada ronco um aroma etílico aumentava a camada de ozônio. Na hora de me vestir para trabalhar, só meias furadas na minha gaveta. (- Ah, liga não, devo ter me enganado, pensei que eram dos meninos! – que nessa altura já calçavam mais do que eu...) Zé Mei sempre disse que não existe “Dia dos Irmãos” prá gente não ter que comprar presente prá cunhado. E continuou sua explanação sobre o dia dos Pais, que ele nem era: - Quando me aposentei, eu ganhei de presente dos meninos um novo modelo de bicicleta. É linda né não? – e tirou a foto da carteira para me mostrar. Confisquei imediatamente a imagem e estava pronta a minha crônica pro Dia dos Pais com quase uma semana de antecedência...
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
kakakakka
Que figuraça!
Rolei de rir com o texto, muito bom.
Escrita gostosa, a de seu Gerson.
mc
Enviar um comentário