domingo, 14 de setembro de 2008

O DECEPADO




Henrique IV,de Castella,casára com a infanta D.Joanna,irmã de D.Affonso V;e d'esse casamento nascera outra Joanna,mais tarde geralmente denominada:"Excellente Senhora".
Intrigas politicas apertaram de tal maneira nas suas malhas a familia real de Castela,que tomou vulto de verdadeiro a atoarda da impotencia de Henrique IV e a da mancebia da rainha com D.Beltran de la Cueva,a quem foi atribuida a paternidade da "Excelente Senhora",sobrinha do rei de Portugal.
A quem aproveitava o escandalo?
A D.Isabel,irmã de Henrique IV e já mulher do rei Fernando de Aragão.
O rei de Castella,ao morrer,pediu no seu testamento a D.Afonso V que case com a "Excellente Senhora" e defenda pelas armas os seus direitos ao throno,e com tanta razão o fez que,mal o viu no tumulo,D.Isabel fez-se aclamar rainha e herdeira de seu irmão.
Então precipita-se o desenlace.
O rei de Portugal entra em Castella com 19.600 homens e bastante artilheria.Era um exercito brilhante,a cuja frente,além do proprio rei,se encontravam:o adail-mór Diogo de Barros;o marechal D.Fernando Coutinho;o commandante dos ginetes reaes Vasco Chichorro;o conde de Penamacor,Lopo d'Albuquerque;D.Henrique de Menezes,conde de Vianna;o conde de Penella,D.Affonso de Vasconcellos;o conde de Monsanto,D.João de Castro;o condestável do reino e Duque de Bragança,D.Fernando II etc.
Esperamvam-no em Hespanha partidarios fieis:o duque de Arevalo,o marquez de Vilhena,o conde de Ureña...
Foi em Plasença,que os noivos se avistaram.
Juntos,sobre um estrado alto,foram aclamados reis de Leão,Castella e Portugal.O casamento politico estava feito.Faltava o religioso.Nunca se realisou.
Começa então a ardua marcha em busca do inimigo atravez de Arevalo,Valladolid,Samora,Burgos até que um dia se encontraram nos arredores de Tóro,onde o Principe Perfeito se havia reunido a seu pae.
No dia 1 de Março de 1476,em frente aos muros de Tóro encontraram-se os dois exercitos:o de D. Affonso V de Portugal e o de Fernando de Aragão.Mas,ao passo que D.Affonso commandava as suas hostes,D.Fernando "assistia" do alto de um monte ao espectaculo da lucta.
Foi a ala esquerda do exercito portuguez commandada pelo principe D.João que rompeu o ataque aos brados de "S.Jorge e S.Christvão!".
Gonçalo Vaz de Castello Branco foi o primeiro que tocou no inimigo.
Os castelhanos batidos acolheram-se ao centro onde tremulava a bandeira de D.Fernando.
Entretanto D.Affonso V,combatendo sempre como qualquer cavalleiro,no mais perigoso logar e com maior desprezo do perigo,manteve,durante uma hora,indecisa a batalha por esse lado e leva-la-hia de vencida se não viesse de subito um importante e inesperado reforço dar alento á ala esquerda castelhana.Superiores no numero de ginetes e tendo disposto habilmente uma columna de espingardeiros,que varejavam os cavallos da hoste do rei Affonso,cantou victoria pouco depois esta ala dos castelhanos. Affonso V quiz atirar-se para deante,morrer pelejando...Não lh'o deixaram o conde de Caminha e outros.
E foi então que se passou o feito de armas que nenhum outro excedeu jamais.
Os castelhanos,ao verem entradas as fileiras da hoste real cubiçaram-lhe a bandeira empunhada pelo alferes-mor D.Duarte de Almeida.
Cercaram-no,apertam-no de espadas e lanças n'um circulo de morte e intimam-no a entregar o symbolo da Patria. D.Duarte de Almeida segura n'uma das mãos a bandeira e na outra a espada que traça no ar relampagos de raiva.
Mas em torno ruge o odio,a ambição,a cubiça da honra que dará a posse do estadarte;e uma espada inimiga decepa de um só golpe a mão do heroico alferes,precisamente aquella que segura o balsão real.
D.Duarte d'Almeida larga da outra a espada e aferra com força immensa o thesouro que iam roubar-lhe.
Novo golpe e a outra mão sangrando,convulsa ainda,larga a bandeira e cae.
O heroico alferes-mór,não vacilla no arção;leva aos dentes com os cotos rubros de sangue nobre o panno sagrado da bandeira e sob os golpes furiosos de tantos e tantos contra um é finalmente levado a terra;mas vive! E,como vive,enrola-se rolando na bandeira que só depois de lhe terem levado a vida conseguirão levar-lhe!
Atiram-se sobre elle os castelhanos,arrancam-lhe o estandarte por fim.E'um fidalgo Sotto Mayor que o leva.Mas no caminho disputa-lho o escudeiro portuguez Gonçalo Pires.
N'essa noite D.Affonso V julgando a batalha perdida acolheu-se a Castro Nuño.
D.João II que a vencêra na outra ala proclamava-se no campo,honrado e vencedor.
Mas quem vencêra afinal fora um cavalleiro bom de Portugal,que do chão,onde caira sem mãos,quasi a morrer fôra levado preso para Castella: - D.Duarte d'Almeida - "O decepado"!.

Texto de autor desconhecido,publicado na Revista PORTUGAL,em Fevereiro de 1924


2 comentários:

Anónimo disse...

Hoje... Quem compreende e quem valoriza tal eroísmo e tamanho fervor patriótico?

E atenção: do outro lado estavam os "reis católicos", Isabel e Fernando!

mc

Anónimo disse...

"eroísmo" ?

Escreva em Português, Senhor Patriota.