sábado, 13 de dezembro de 2008

RAUL BRANDÃO




"Há os que nascem postumos" - escreveu no portico dum dos seus livros essa águia altiva,sob cujas garras ainda se emaranha o pensamento contemporaneo,que foi Frederico Nietzsche.
Raúl Brandão está entre esses - entre os que só principiam a viver quando a morte cerra sobre eles suas pesadas lousas.
Até ha muito pouco tempo a mediania intelectual ignorava-o ou fingia ignorá-lo: - e todavia ha ja muitos anos a mão poderosa de Junqueiro traçara,o prologo dos "Pobres",essas paginas formidaveis que decapitadas e sob o titulo "O que é a vida?",teem sido transcritas em quasi todos os jornaes e revistas.
A sua obra robusta,dum estarrecimento profundo,foi tradusida ao espanhol e ao italiano: -o estranngeiro apoz à obra ignorada a chancela da sua admiração e Portugal concedeu a Raul Brandão o renome que desde ha muito lhe pertencia.
Não ha ainda muitos anos que Raul Brandão me escrevia,a proposito de um artigo meu sobre a sua personalidade literaria:
"De facto tenho poucos leitores,mas esses me bastam porque são escolhidos..."
Escritor para elites,mesmo quando exalça os humildes,Raul Brandão é,no portico do seculo,uma das maiores cerebrações peninsulares.
Seu nome só há pouco foi galardoado; - mas sua obra vem de longe: e para muito longe caminha: - dirige-se através das hostes da mediocridade para os domínios da posteridade.
Pensador: -prosador singular: - personalidade impar: - Raul Brandão faz levitar de suas paginas uma angustia enorme,misteriosa,quazi exoterica: - nas paginas de Raul Brandão fluctua sempre uma expectativa dolorosa: - uma perplexidade extranha: - um panico sinistro,mortal.

Excerto de um texto de Ferreira de Castro,publicado em Fevereiro de 1924

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