domingo, 8 de março de 2009

SOPA DE RABO DE BOI É RABADA?

Uma rabada granfina...

Um dia, que espero seja em breve ou, pelo menos, o mais brevemente possível, estarei aí junto aos confrades d'além mar em uma das reuniões da Confraria do Bom Apetite. Cada vez que leio as histórias, a carta de vinho e a descrição dos comensais e das suas vítimas dentro das panelas, mais fico tentado a encarar esse cardápio. Dessa vez, gostei muito da idéia da sopa de rabo de boi - por aqui comemos o mencionado ornamento com mingau de polenta e agrião cozidos na mesma panela. Chamamos esse prato de Rabada, uma estrela da baixa gastronomia carioca que aos poucos vai conquistando seu espaço nas mesas mais refinadas. Com ou sem duplo sentido. Já ouvi um cheff francês achado por aqui (Olivier Cozan, se não me engano) dizer que a rabada é o prato brasileiro que mais aprecia. Alguns restaurantes trocam a polenta por batatas cozidas. Perde um pouco a graça. Prefiro a polenta, que, se bem preparada, é dos deuses. Mas então, caros confrades, mandem-me com urgência uma receita - ou só os ingredientes de sua sopa, para repeti-la por aqui - a parte lusitana de meu DNA adora sopas! Quanto ao hino, sugerido pelo Rui, fico muito honrado pela lembrança mas acho que os músicos da banda, mancomunados aos poetas, poderiam traduzir o sentimento da confraria muito mais perfeitamente do que eu, que, aqui do outro lado do oceano, fico apenas com um monte de água na boca.
Nos anos 70 eu pertencia a uma espécie de confraria (hoje seria enquadrada como "formação de quadrilha"), que juntava jogadores de futebol (peladeiros melhores do que muitos profissionais de hoje em dia), buraco (também conhecido como canastra) e sueca. Bebíamos muita cerveja, antes, durante e depois de todos os jogos, realizados sobre toalha de feltro azul. Batizamos a associação de ErgueUma Footbeer and Boll e compus o hino pouco antes da sua dissolução, pelos motivos mais esquisitos: casamentos dos membros, trabalho em outra cidade, fígados em frangalhos. As reuniões eram na casa da Tia Leoni, que cozinhava uma maravilha e nos perdoava por tudo, além de ser jogadora de buraco das mais animadas. Também jogávamos na praia do Leblon, onde fundamos a nossa sede náutica após sermos atingidos por um guarda-sol-perdido , do tipo hoje chamado de ombrelone, que nos caiu na cabeça numa noite de temporal. Achou a vida no apartamento de cobertura muito enfadonha e pegou carona num vento sudoeste. Encaramos a coisa como um recado dos Deuses e imediatamente adotamos o objeto para, em sua sombra, praticarmos as atividades esportivas que mais apreciávamos: cerveja e baralho. Era um tempo em que só havia dois tipos de academias de ginástica: as de lutas e as de halterofilismo. Preferíamos os esportes radicais acima mencionados, cuja prática não nos obrigava a usar suporte atlético.
A título de curiosidade, publico aqui a letra do Hino do ErgueUma Footbeer and Boll, composto entre os dias 25 e 30 de dezembro de 1974, conforme registrado no livro Buracômetro, a ata de nossas saudáveis atividades:

Somos o ErgueUma Footbeer and boll
E nós bebemos a luz da lua
E urinamos o sol
Somos um clube fechado
Na casa da Tia Leo
Onde jogamos buraco
Nas mesas do céu
Estamos sempre curtindo o celeste
Dando as mãos à saúde e à peste
Somos todos curingas druidas
Sujando as canastras da vida
Nosso ouro está todo no morto
Nossa espada te espeta a beleza
Nossas copas fizeram aborto
E os paus estão todos na mesa
E assim nós vamos
De carona em direção à cirrose
Sempre cantando
Que essa vida só se atura de porre
O ErgueUma é um vaso aberto
Nalgum banheiro do bar mais perto
Somos a cor de amarelo anil
Desse Brasil!

Grande abraço a todos os confrades especialmente ao aniversariante!


2 comentários:

Maria disse...

tenho estado a trabalhar ao som da música que creio teres sido tu a postar...
é gira. simpática. despretensiosa.
serve de conforto a quem faz algo que não apetece.
abraço.

aminhapele disse...

Para já noto que a Maria gosta da tua música.
Agora,vamos à parte mais difícil!
O Jorgito,mestre da sopa de rabo de boi,não tem computador e pediu-me que te respondesse.
Claro que começou por agradecer os teus parabens e garantir,como toda a Confraria,que serás muito bem recebido quando apareceres.
Quanto à rabada,tem pouco a ver com a nossa "sopa".
Eu,que não sou cozinheiro,vou tentar transmitir a receita,para 4 pessoas:
2 rabos de boi
0,5 kg de feijão manteiga
200 grs de cenoura
0,5 kg de batata
3 cebolas
4 dentes de alho
2 caldos de galinha(aqueles dos cubos)
Picante a gosto
Sal a gosto
Pé de porco e orelheira
Carne de vaca(aba) para cozer
Chouriço,morcela de sangue e farinheira
O feijão é posto de molho (cerca de 8 horas),juntamente com as carnes cruas.
Depois,coze-se tudo junto,com água a cobrir...
Quando as carnes estiverem cozidas,retiram-se todas menos o rabo de boi(partido pelas articulações,obviamente).
Mete-se couve lombarda e batatas(partidas ao meio) e é deixar cozer.
As carnes,depois de cortadas,são metidas no tacho.
É mexer,comer e acompanhar com um bom tinto!
Não se usa azeite,porque se aproveita a gordura das carnes e dos chouriços.
Espero que,para um ignorante destas coisas,esteja a transmitir a receita de modo que percebas.
Experimenta e diz alguma coisa.
Um grande abraço.