sexta-feira, 1 de maio de 2009

VERMELHO AMARELO LARANJA ROSA AZUL VERDE


Uma pequena "estorinha" de preparação do 1º de Maio de 1971.
Nesse tempo vivia na capital do "reino".Já tinha a minha vida estabilizada.Exercia uma profissão estável(no privado),já tinha feito a guerra,já tinha uma filha...
Tinha amigos,desde os bancos do liceu e da universidade,que também estavam na capital do "reino".
Além de sermos amigos,éramos e somos antifascistas.
O percurso político foi diferente:os meus amigos empenharam-se,partidariamente,num partido maoista.
Não sei a que categoria eu pertencia:não estava filiado num partido,mas "trabalhava" com um que distinguia entre camaradas,companheiros e amigos.Não sei se,ao tempo,era companheiro ou amigo.
Estranhamente,os meus amigos diziam que eu era social-fascista!
Para lá destas pequenas provocações éramos amigos.
Em vésperas de 1º de Maio,tínhamos tarefas a fazer.
Combinámos encontrar-nos,para beber um copo,numa cervejaria.
Nessa noite,cada um foi à sua tarefa:eles foram fazer pichagens(Todos ao Rossio!O 1º de Maio é Vermelho) e eu fui ajudar a estender uns pendões no Carmo e distribuir "imprensa clandestina".
À hora combinada,lá estava eu na cervejaria...
Os meus amigos é que não apareciam!
Fui à procura deles e lá os encontrei.
Ajudei-os a acabar as pichagens e lá fomos beber um copo,tão sossegadamente como era possível nesse tempo.
Esta,uma pequena história verdadeira de um pré-1º de Maio dos tempos medievais...

4 comentários:

mc disse...

O 1º de Maio de 1971 surge na sequência da fundação da CGTP no ano anterior. É, creio que se poderá dizer com acerto, o primeiro de Maio da nova era, da Primavera marcelista, que corresponde ao Outono (Inverno, melhor dito) do Estado Novo.
Ainda hoje pasmo com a coragem que tínhamos de ter para levar a cabo certas acções clandestinas.
É que eram reais os riscos que se corriam.
A história do vinte e cinco de Abril tem muitas pequenas estórias nas quais se iam "formando" os fautores da Revolução.

mc

aminhapele disse...

É verdade,querido amigo.
Estes putos radicais não fazem a menor ideia do que era ser "radical",nesses tempos.
A culpa também é nossa.Calámos o que fizemos,para não armarmos em heróis...
Um abraço.

Beth/Lilás disse...

Ah, como faz falta nos dias atuais jovens assim, determinados e com atitudes! Pelo menos aqui no Brasil sentimos falta de 'caras pintadas' de gente que se manifesta publicamente e ajuda o país a pensar e crescer!
Parabéns!
grande abraço carioca

Maria disse...

Já vai com atraso, mas ainda assim.
Nunca mais me esqueci disso desde que li: o primeiro 1º de Maio em Portugal festejou-se ainda antes da República. O proletariado de então - que só existia, enquanto tal e com consciência disso, em Lisboa e no Porto - festejava alegremente o facto de poder não trabalhar de sol a sol da maneira que sabia: fazendo um piquenique no campo, para onde se deslocava "em romaria".
O que me impressionou foi realizar que as romarias eram o único tipo de festa em que havia tempo dedicado apenas ao divertimento, ainda que a coberto da devoção religiosa... Achei engraçado pensar que o 1º de Maio foi a primeira oportunidade de divertimento laico regular (anual) autorizada.
Não sei se, quando se lembraram de "decretar" o 1º de Maio perceberam a revolução de costumes que estavam a iniciar. Graças a Deus!