quarta-feira, 9 de julho de 2008

AVEIRO


Texto de autor desconhecido,publicado em 15 de Outubro de 1924.

Para meus filhos que,mesmo as que nasceram em Coibra,dizem que são aveirenses...

Continuando por ordem alfabetica a descripção dos principaes portos de mar portugueses,encontramos em segundo lugar o de Aveiro,cidade antiquissima,historica e arquitectonicamente notavel,capital de districto,da provincia do Douro.

Assente em terreno pouco elevado,remira-se Aveiro no espelho tranquillo da sua Ria,formada pelas aguas do Vouga e pelas do Oceano,constituindo uma vastissima bahia de 50 Kms. de extensão,desde Ovar até Mira,comunicando com o mar pela barra de Aveiro,depois de alagar milhares de canaes,um dos quaes atravessa a cidade,tornando-a encantadoramente pitoresca.

A Ria de Aveiro,que não existia ainda no tempo dos romanos,tem quatro braços principaes:a ria d'Ovar,a de Mira,a de Vagos e propriamente a de Aveiro tambem denominada canal da cidade.

N'ella desaguam os rios Antuã,Vouga e ribeira de Sousa.Os canaes ou esteios correm por entre ilhotas baixas,sendo quase todas acessiveis aos efeitos das marés.

A historia maritima de Aveiro é curiosa:teve apogeu,passou por uma decadencia acentuada e hoje a sua vida é florescente.Vejamos como se passou tudo isso.

Graças à capacidade do seu porto e à belleza do seu clima e á actividade dos seus habitantes,foi sempre grandemente considerada pelos reis de Portugal,desde Sancho I - em cujo tempo já era villa - que a doou a sua irmã D.Urraca - ao regente D.Pedro que a reorganisou e revestiu de muralhas,seguindo sempre digna das concessões que por varias vezes lhe foram dadas em foraes e cartas regias.Cresceu tanto a sua prosperidade,que em 1550 contava 11.000 habitantes,possuia mais de 150 navios,sendo a maior parte de alto bordo,60 dos quaes iam anualmente pescar bacalhau á Terra-Nova.

Em 1573 um inverno tempestuoso obstruiu com areias o porto e a barra.E então começou o declínio,agravado com o decorrer do tempo,em successivos açoreamentos,que mudaram a barra 15 milhas para o sul,tornando-a perigosa e dificil.Não paravam aqui os motivos de queda para a sua importancia,porque da obstrução da barra veiu o alagamento dos campos ferteis,que chegavam a produzir 30.000 moios de trigo e o das celebres marinhas,que davam todos os anos 12 a 16 mil moios de sal.Tudo a areia cobriu ou a agua do mar esterlisou,convertendo em pântano o que fôra chão de espigas.E a vila decahindo sempre,foi sendo abandonada.

No seculo XVIII,um novo temporal mudou a barra 30 Kms. mais para sul.

Foi então que D.João VI,ainda regente,decidiu salvar Aveiro,mandando construir um dique e fazer outras obras hydraulicas,principiadas em 1802 e tão bem dirigidas e administradas que,tendo custado apenas 100 contos de reis,restituiram á barra as condições de acesso de que hoje gosa,ao porto a importancia que dantes tinha e aos campos e ás salinas a vida productiva com que se completa a riqueza da cidade.Os engenheiros d'essa obra,brigadeiro Oudinot e tenente-coronel Luiz Gomes de Carvalho,deram-na por terminada em 1808,e tão bem acabada foi,que no dia 13 de Março do ano seguinte,ali entravam 40 navios transportando munições para o exército inglez,empenhado connosco na expulsão dos francezes invasores.Foi a ressurreição do comercio,da navegação,da pesca,da industria salina,foi afinal a ressurreição de Aveiro!

Não se ficou por ahi.Em 1813 mudou-se o leito do rio Vouga para que as suas aguas,dirigidas pelo canal do Espinheiro alcançassem mais facilmente a barra,e cuidou-se do encanamento dos rios Agueda e Certima.Em 1863,a obstrução da Vagueira melhorou ainda mais as condições do canal e,onde existia a barra da Vagueira,é hoje uma praia de banhos.

A barra está em comunicação com a cidade por uma estrada de 7 Kms. que segue pelas terras da Gafanha,atravessando o Canal d'Ilhavo por uma ponte chamada ponte da Gafanha. O canal que liga o sítio das Duas Aguas com a barra,chega a atingir a profundidade de 10 metros em frente do antigo forte,hoje desprovido de importancia militar,servindo para aviso dos navios,que demandam a entrada;um poderoso farol serve de guia aos mareantes.

A pesca,o sal e a apanha do moliço,constituem as mais importantes industrias de Aveiro,que deve a José Estevam Coelho de Magalhães,aveirense ilustre,a estação de caminho de ferro,que lhe desenvolveu o comercio importante de:fructas,minerio,sal,peixe fresco e salgado,madeiras,vidros,esteiras,vinho e manteiga.

1 comentário:

Anónimo disse...

Texto interessante. Gostei.
D'antanho, desses idos de quinhentos até hoje, grandes diferenças se devem notar...
Mesmo dos anos 20 do séc passado... A ria não se apresenta bem mais pequena?

mc