domingo, 16 de novembro de 2008

DIÁSPORA




Nos primeiros anos do séc. XX,meu avô materno,perdido de amores,abandonou a mulher e cinco filhos e rumou ao Brasil,para ir ter com a sua amada.
Cortou todos os laços com a família e com a própria comunidade portuguesa no Brasil.
Anos mais tarde,ficámos a saber que casou com a sua amada e constituiu uma nova família.
Como?!Não sabemos,nem nos interessa muito.
Minha avó,com cinco filhos e vivendo numa aldeia bastante pobre,viu-se com as dificuldades inerentes à situação.Os tempos eram difíceis,Desde que me conheço,os tempos são sempre difíceis,em Portugal.
Primeiro,enviou os rapazes,para o Brasil em busca de uma vida melhor.
Eles,sem qualquer contacto com o pai,estiveram uma temporada no Brasil e rumaram à Argentina onde fizeram as suas vidas e por lá ficaram,até à hora da morte.
Anos mais tarde,minha avó decidiu que a filha mais velha(12 anos) estava na idade de partir.Lá foi para o Brasil,ao cuidado de uns tios,e por lá constituiu a sua família,no Rio,tendo falecido há poucos anos.
Também ela,não teve qualquer contacto com seu pai.
Por cá,ficou minha avó com as duas filhas mais novas.
Minha mãe,a mais nova,ficou com o apoio da irmã e a cuidar da Mãe.
Por isso,eu tive a sorte de ter duas mães:a própria e minha tia-madrinha.
Meus tios radicaram-se na Argentina.
Minha tia,mais velha,radicou-se no Rio.
De meu avô,tive notícias o ano passado,quando estive no Rio e fiquei a conhecer uma sua bisneta,jornalista e figura pública da televisão brasileira.
Este é um pequeno aspecto da diáspora portuguesa,procurando melhores condições de vida.
De há uns anos para cá,têm sido os brasileiros a fazer esse percurso.
Também,noutros países,procuram melhores condições de vida.
Foi a vez de a família portuguesa,reconhecer à família brasileira,o muito que nos ajudou.
Uma jovem carioca,minha prima em 2º grau,obteve a nacionalidade portuguesa,quando rumou à Europa,há dois anos atrás.
Após a licenciatura na Universidade do Rio de Janeiro,obteve uma bolsa para fazer o seu mestrado em Antropologia,em Estrasburgo.
Alan,também ele carioca e oriundo da diáspora alemã,obteve o seu mestrado em História do Direito e prepara o doutoramento em Estrasburgo.
Pois este jovem casal,abaixo dos 30 anos,resolveu casar em Portugal onde a noiva tem a sua residência oficial.
As coisas foram tão rápidas que os pais da noiva não conseguiram estar presentes à cerimónia.Minha mulher e eu próprio fizemos o nosso melhor:assumimos de uma maneira muito séria o "encargo" de padrinhos da noiva.
Felizmente,à última hora,a mãe do noivo conseguiu uma passagem "milagrosa" e esteve presente.
A festa foi muito bonita.
Meus filhos acolheram a "irmã" mais nova.
Dentro de poucos dias,o casal regressa a Estrasburgo.
A familiaridade e solidariedade da diáspora ficaram mais fortes.


3 comentários:

Beth/Lilás disse...

Ah, então um casamento!
Deve ter sido uma bela festa e as lembranças de toda esta saga de família.
Parabéns pela "elegância" que tiveram no ato!
abs carioca

Anónimo disse...

Interessante história!

A propósito dum percurso de vida com altos e baixos, com interrupções e retomadas de acção, o povo compara a vida com uma nora (engenho) e refere os alcatruzes da vida!

Parabéns os noivos e famílias, abraços a todos e também aos padrinhos

mc

ecosteira disse...

Adorei a história.
Afinal é a história da minha avó e da minha família também!
Acho que até merecia um livro!
De todo o modo estão todos de parabéns, primos e primas!