quinta-feira, 27 de novembro de 2008

MPP


Os meus amigos músicos que me desculpem mas,desta vez,a sigla MPP não tem nada a ver com a música.
Tem a ver com a Mercearia Popular Portuguesa.
Os da minha geração,e já lá vão mais de 65,sabem que o grande BANCO da sua terra,da sua aldeia ou do seu bairro,era a MERCEARIA do senhor XXXX.
Ali se praticava a economia social:o crédito com juros aceitáveis,os financiamentos nos casos de tragédia,o livrinho da conta,o atendimento personalizado,o telefone público,a distribuição do correio,os editais de casamentos ou mortes,os namoricos,os copos fora de horas,os petiscos,etc.
Ali,todos encontravam todos:o padre,o médico,o alfaiate,o sapateiro,o farmacêutico,o regedor,o guarda-rios,a modista,a professora,a catequista,o sacristão,o regente da filarmónica,o lavrador,os homens do campo,o "brasileiro",o senhor envelhecido pelo paludismo que tinha estado no Congo,etc.
O senhor XXXX,o grande banqueiro,ali estava com a sua família,em relação directa e familiar com os seus clientes.
O banqueiro,honradamente,assumia o risco do seu negócio e,em anos em que as coisas lhe corriam bem,mandava a mulher e os filhos a banhos.
Se as coisas corressem mal,porque corriam mal a todos os clientes,todos ficavam por ali a dizer mal da vida.
Nunca lhes passou pela cabeça pedirem dinheiro para "aguentar" o negócio!
Para isso,vendiam-se meia dúzia de pinheiros!
Estes "banqueiros" foram acabando,em nome do desenvolvimento e foram substituídos por outros que,por razões de mercado,só dão um chouriço a quem lhes der um porco!
E,se houver doença nos porcos,há que reclamar subsídios e pôr o povo todo a pagar-lhes a falta de lucro e os "investimentos" especulativos que fazem.
E,a bem do mercado,o povo que pague directamente ou indirectamente os seus devaneios.
O povo deixou de conhecer os banqueiros!
Como deixou de conhecer outros figurões que tinham obrigação de se lembrar dos tempos da MPP!
Deixo-vos uma fotografia,tirada da net,que mostra a "venda da D.Micas e do sr.Carlos",em Chãs de Tavares,Mangualde.Em Abril de 2006,o idoso casal fechou a loja e o "banco" da terra acabou.
Mais um que foi substituído pelos modernos Bancos.
Aqueles que não assumem o risco do negócio,de que ninguém conhece os donos e a quem todos temos que socorrer quando o negócio dá para o torto.
Tudo em nome do desenvolvimento e do mercado!

1 comentário:

Beth/Lilás disse...

Ai que boa lembrança!
Esta mercearia recordou-me uma que tinha no meu bairro de infância que os donos eram dois senhorezinhos portugueses, um era magro e o outro gordinho. Chamávamos a dupla de gordo e o magro da mercearia.
Pena, não vemos mais isto no Rio de hoje!
abs cariocas

ps.: Meu PC é como o teu, traquinas e
temperamental, pois hoje funciona normalmente.