CREMILDE
Continuo a gostar muito dos transportes públicos.
Cheguei à paragem e o meu autocarro tinha acabado de partir.
Era um dia difícil,porque havia muita chuva e mudanças de horário.
Lá fiquei,abrigando-me o melhor possível,junto a uma senhora com mais de 80 anos e com dificuldade de visão.
Nas terras pequenas é costume falarmos uns com os outros.
Lá fui conversando com a Cremilde(nome que inventei,embora conheça o verdadeiro).
Falámos do tempo,da chuva,do frio e de tudo aquilo que é costume falar-se numa paragem de autocarro.
Quando chegou o seguinte(aquela paragem serve apenas 2 linhas) eu disse à senhora que entrasse,pois o da outra linha que eu perdi tinha partido com a Cremilde sentada na Paragem.
Ela explicou-me então que via mal,que a avisaram para embarcar no anterior,mas apetecia-lhe estar ali mais um bocadinho a apanhar ar.
Vive sózinha em casa,em boa zona da nossa terrinha,mas numa moradia já um bocadinho velhota.Os filhos e os netos já quiseram pôr num apartamento moderno,daqueles com elevador e tudo,com centenas de pessoas a morar no mesmo prédio,para a Cremilde estar mais acompanhada.
Mas a Cremilde sente-se bem onde vive,movimenta-se à vontade e tem um grande quintal onde respira à vontade.
Os filhos acham que aquilo é um desperdício e todo aquele espaço,numa zona tão nobre,daria uma confortável maquia depois de urbanizada.
A Cremilde confessou-me que já nem nos cemitérios há espaço,segundo lhe disseram,e é por isso que já deitam os cadáveres para a fogueira.
Por isso,diz ela que tenta apanhar todo o ar que lhe for possível,até a atirarem para a fogueira e o lugarzinho dela transrformar-se num grande condomínio.
Em nome da Cremilde,postei antes a cremação.
Oxalá a Cremilde continue a apanhar ar por muitos e bons anos.
Um beijo,Cremilde.
Continuo a gostar muito dos transportes públicos.
Cheguei à paragem e o meu autocarro tinha acabado de partir.
Era um dia difícil,porque havia muita chuva e mudanças de horário.
Lá fiquei,abrigando-me o melhor possível,junto a uma senhora com mais de 80 anos e com dificuldade de visão.
Nas terras pequenas é costume falarmos uns com os outros.
Lá fui conversando com a Cremilde(nome que inventei,embora conheça o verdadeiro).
Falámos do tempo,da chuva,do frio e de tudo aquilo que é costume falar-se numa paragem de autocarro.
Quando chegou o seguinte(aquela paragem serve apenas 2 linhas) eu disse à senhora que entrasse,pois o da outra linha que eu perdi tinha partido com a Cremilde sentada na Paragem.
Ela explicou-me então que via mal,que a avisaram para embarcar no anterior,mas apetecia-lhe estar ali mais um bocadinho a apanhar ar.
Vive sózinha em casa,em boa zona da nossa terrinha,mas numa moradia já um bocadinho velhota.Os filhos e os netos já quiseram pôr num apartamento moderno,daqueles com elevador e tudo,com centenas de pessoas a morar no mesmo prédio,para a Cremilde estar mais acompanhada.
Mas a Cremilde sente-se bem onde vive,movimenta-se à vontade e tem um grande quintal onde respira à vontade.
Os filhos acham que aquilo é um desperdício e todo aquele espaço,numa zona tão nobre,daria uma confortável maquia depois de urbanizada.
A Cremilde confessou-me que já nem nos cemitérios há espaço,segundo lhe disseram,e é por isso que já deitam os cadáveres para a fogueira.
Por isso,diz ela que tenta apanhar todo o ar que lhe for possível,até a atirarem para a fogueira e o lugarzinho dela transrformar-se num grande condomínio.
Em nome da Cremilde,postei antes a cremação.
Oxalá a Cremilde continue a apanhar ar por muitos e bons anos.
Um beijo,Cremilde.
2 comentários:
É assunto um bocado embaraçoso, para mim, este da longevidade.
Por um lado aprecio e empolgo-me com as cremildes. Por outra banda...Preocupam-me, tenho pena delas...
A medicina, verdade seja dita, tem feito o que pode para aumentar a longevidade do ser humano.
Mas o Estado - também não se pode esquecer - não criou ainda as condições para que essa longa duração seja acompanhada pela necessária qualidade e dignidade...
Mas que as cremildes, em geral, são uma ternura... Lá isso!...
E a indiferença e a ganância dos filhos e dos netos das cremildes?... Serão apenas fruto de uma pura e desnaturada falta de sensibilidade, ou serão, também, e essencialmente, fruto de uma sociedade descaracterizada (descaracterizada? De mau carácter, direi antes) e preversa, consequência, designadamente, da falta de intervenção adequada na educação e noutras áreas por parte do Estado...
O próprio Estado é promotor e cúmplice nessa desenfreada ganância...
Salazar, acerca de tudo, contava o tostãozito?
E o Estado de hoje, O NOSSO, que só vê qualquer problemática numa perspectiva economicista?
Ser uma terna cremilde, de respeitável idade... Não chega, para quem adopte padrões mais exigentes...
Não é mesmo Rui?
Até uma próxima.
ZL
(e eu a dar-lhe: moitacarrasco)
Um grande e terno abraço para todas as Cremildes!
Jorge G
Enviar um comentário