sábado, 24 de outubro de 2009

3 PINTAS

A postagem anterior,de Maria,trouxe-me à memória a minha estadia em Tomar e um episódio que,creio,ainda não contei.
Aí vai.
Nos finais de 1964,ainda estudante mas já a trabalhar,recebi um telefonema de um senhor que me disse ser o dono e director do Colégio Nun'Álvares,em Tomar e que gostaria de falar comigo.Marcámos um encontro,no dia seguinte,em Coimbra no velho(e já inexistente) Café Internacional(junto à Estação Nova).
Encontrámo-nos e,após algumas explicações sobre o contacto,foi-me feita uma proposta de trabalho:eu seria um misto de professor e prefeito,de Português e Francês,teria um alojamento condigno na casa dos Professores(uma belíssima moradia na Praça em frente ao Colégio) e um ordenado bastante elevado para a época.Ou seja,cama mesa e roupa lavada e mais um dinheirinho importante!
Disse ao senhor,com a maior das veracidades,que nunca tinha dado aulas e que não sabia de Português e Francês o suficiente para ensinar.
Respondeu-me que sabia disso.Explicou-me o que pretendia de mim:aturar 3 alunos internos(um deles mais velho que eu),filhos de pais ricos,expulsos de todos os colégios do país e que precisavam,na óptica dele,de um companheiro que os domasse...
A professora anterior,que eu conheci durante um dia,era lindíssima,bem feita,mas não conseguia aturar as graçolas dos miúdos.Segundo ele,não se dava ao respeito!!!
Lá disse ao senhor que em Agosto seguinte eu seria chamado para a "guerra"...
A verdade é que aceitei o emprego!
Passados pouco dias,como jovem com pouco mais de 20 anos,já tinha sido adoptado por toda a gente.
Num café,frente à casa dos professores,juntava-se toda a gente importante que trabalhava no Colégio.
Convem referir que tive direito a um belíssimo quarto,com varanda para essa praça.
No café,um senhor com quase idade para ser meu pai,de uma das famílias mais conhecidas do Ribatejo(toiros e cavalos,está visto) fez a minha iniciação em Tomar.
Um professor,daqueles a sério,queixou-se que não tinha ninguém para jogar xadrez.
Disse ao "colega" que,quando lhe apetecesse,eu estaria disponível para empurrar umas pedras no tabuleiro.  
Um dia,jogávamos o tal xadrez.
O meu "colega",já nos 40,tinha uma gravata às pintas e "irritava-me" porque pensava muito nas jogadas,concentrando-se nas pintas da gravata.
Disse-lhe:"Deixe lá a porra das pintas e jogue!".
O homem levantou-se,deu-me duas bofetadas e saíu.
Suponho que,na minha vida,foi a única vez que me fiquei...
O meu amigo ribatejano,pôs-me uma mão no ombro e disse:
"Acalma-te rapaz!Portaste-te bem."
Vim a saber que o professor,há anos,era achincalhado nas aulas por ter três sinais,bem evidentes,na cara.Por isso,era conhecido por "3 Pintas".
Eu ignorava,em absoluto,esta questão.
No dia seguinte,pediu-me desculpa e agradeceu eu não ter reagido.
Quanto aos meus alunos,2 fizeram o 1º ciclo.
O outro não fez,porque fugiu do colégio antes dos exames em Santarém. 

 




4 comentários:

Unknown disse...

Que coisa! É preciso ter pachorra. Mas gostei de saber que os alunos se sairam bem! Até o que fujiu! :-) Não seria o Jorge Palma, por acaso? Parece que andou por lá e fez a memsma coisa...
Afinal, informei-te mal. O edifício do colégio ainda lá está, mas agora é o Conservatório Regional. Espero, a bem da música, que não tenha professores às pintas!

Unknown disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
aminhapele disse...

Não era o Jorge Palma.
É um senhor,hoje aposentado,como tenente-coronel do exército.
O director,dono e fundador do Colégio,era o matemático Raúl Lopes.

Beth/Lilás disse...

Olá, Rui!
Mas, vejam só!
Qur dizer então que o sujeito tinha lá seus recalques e tu fostes mexer em 'casa de maribondo', coo se diz aqui no Brasil. hahaha
Gostei de saber da história!
abraço carioca