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Você,que vive aí para os lados de Setúbal,terá um belíssimo concerto no dia 28 de Junho.
Aproveite.
Rui Lucas me pergunta, diretamente da Terrinha, por que o Fernando Henrique, guarda-valas tricolor, não chega à seleção brasileira? Eu respondo: quem sabe no dia em que for contratado por um clube europeu? Comecei a reparar em goleiros no tempo do Castilho, o maior herói tricolor, superior ao Rivelino, ao Assis (Carrasco do Flamengo), ao Renato Gaucho, que já chegou aqui em final de carreira, só pra dar para a gente o título do ano do centenário rubro-negro. Castilho tinha carisma, era totalmente identificado com o Fluminense, por quem perdeu seu dedo mínimo esquerdo: contundido pela quinta vez, o médico disse que deveria passar por dois meses de tratamento - ele preferiu amputar o dedo. Duas semanas depois da operação ele já voltava a jogar pelo Fluminense. Durante toda a minha vida acreditei que essa mutilação tinha sido conseqüência de uma bomba violenta do alvinegro Quarentinha, que esmagou seu dedo contra a baliza. Mais romântico e cruel, mas puro sonho juvenil, exemplo implacável de amor à camisa, coisa de adolescente dos anos 60, impensável nesses tempos atuais, de tráfico de jogadores, de seleções-vitrines, de farinha muita meu pirão primeiro. Voltando ao santo arqueiro: durante sua carreira jogou 696 jogos pelo Fluminense, um recorde absoluto neste clube. Lá sofreu 777 gols e somou 255 partidas sem bola na sua rede. Entrou para a história como um goleiro milagreiro, fazendo defesas impossíveis. Ele dizia ter uma inacreditável boa sorte. Por causa disso, seu apelido era Leiteria (comum a pessoas que tinham sorte na época) e os torcedores do Fluminense o chamavam de São Castilho. Na década de 50, ele e o afro descendente Veludo disputavam a posição de goleiro titular no clube e na Seleção Brasileira - os dois foram convocados para a copa de 54. Só acompanhei visualmente o Castilho como atleta nos dois últimos anos - pendurou as chuteiras em 64 - quando ganhei idade e corpo para freqüentar o Maracanã - e aprendi que todo bom goleiro, por mais competente que seja, toma seus frangos. Castilho não era exceção, como Veludo, Felix, Taffarel, Dida e Julio Cesar. Fernando Henrique também toma os seus, mas faz defesas impossssssíveis, como ontem. Utiliza também os pés, o corpo e as balizas com total liberdade, beirando a promiscuidade. Numa cara de pau impressionante, não tem medo de ser feliz. O resultado do jogo de ontem foi responsabilidade direta do trabalho dos goleiros: Fernando Henrique fechou o gol (abriu a leiteria, como se dizia no tempo do Castilho) e o tal de Migliore tomou um frango de fazer canja com todos, como dizem aí pela terrinha. Juntamente com Riquelme e os dois Thiagos, Fernando Henrique foi o destaque do jogo e demonstrou ser digno representante da tradição de goleiros tricolores. Quanto ao jogo, digo apenas que foi uma experiência interessante encarar o grande Boca Juniors e sua torcida fanática e, como em todo fanatismo, dona de uma cegueira crônica: seu esquadrão resume-se ao meio de campo - Riquelme, realmente, o maior jogador argentino desde Maradona, consegue desestabilizar qualquer governo, quer dizer, qualquer defesa adversária, não apenas com seu faro de artilheiro – fez dois gols - como na armação e serviço aos companheiros de ataque. Colocou-os diversas vezes de cara com Fernando Henrique. Seus cabeças-de-área ou volantes, como dizem hoje, também são muito bons, dominam o meio de campo. Mas a defesa e o ataque do Boca é formado por jogadores medianos ou até verdadeiros pernas-de-pau, como o goleiro, os dois beques centrais e o artilheiro Palermo, que gosta muito de falar, mas na hora h, falhou, tanto no ataque quanto na marcação, ao deixar Thiago Silva cabecear sem incomodar.O Boca Juniors impressiona pelo volume de jogo – em certos momentos parece que tem mais meio time em campo. Vão pressionando e correndo alucinadamente, proporcionando ao maestro Riquelme o apoio necessário quando muito marcado ou o espaço para armar e concluir seus lances perigosos. Isso funcionou até conseguir o segundo gol, quando o Fluminense, ao invés de se retrair ainda mais para evitar um placar elástico, passou a pressionar novamente, obtendo o empate. Os xeneizes não tinham mais pernas pra correr, fizeram todas as substituições e o placar me pareceu justo, pelo Riquelme e pela perseverança tricolor. Só não viu quem não quis. Acho que respondi ao meu paciente correspondente d’além mar.
Rapaiz, toda vez que receber um negóçu desse de piada, pode conferir: foi gravado lá em riba, com aquele sotaque que, por si só, já faz a gente gargalhar, num é mesmo? É um tal de sumpaulo, sumana, vizi, e por aí vai. Quando não é um radialista maluco desses, é o Ary Toledo, que começou comendo giletes, junto com o Carlinhos Lyra e o Vinícius de Moraes. Tirando os tons cavalcantis da vida, acho que a profissão está morrendo aqui no sul maravilha. Afinal, encher um teatro ou um auditório para ficar quase duas horas falando besteira e contando piada velha, não á fácil! A concorrência do congresso é muito grande. Hoje recebi um programa só com piadas de corno. São dois locutores contando velhas anedotas, mas o jeito de contar já faz a gente rir. Como não estava identificado, fiquei sem saber se era programa de rádio, show em teatro, circo ou reunião do diretório do PT, que anda rindo à toa, pelas palhaçadas próprias ou da oposição, que está apelando mais que... Sei lá o que! Hoje em dia tem mais apelações do que outra coisa. A Justiça resolveu governar, o congresso resolveu julgar e o executivo legislar. Que beleza, diria o Tim Maia, que não era parente do César, O Alcaide Maluquinho, nem do Agripino, O Torturador Potiguar. Me passa o baurete!
Aqui no sul maravilha parece que o rádio foi extinto, como um papagaio à pilha. Sobreviveu apenas nos automóveis, para audição musical. Até os porteiros noturnos assistem televisão, com sua fórmula novela/telejornal, que tomou conta da difusão, tanto da ficção quanto da realidade, que manipula com maestria. As livrarias quase sucumbiram de vez nos anos 80. Foram salvas pelos cafés que instalaram entre as obras literárias e que a cada dia vão se transformando em bares ou restaurantes, só falta comprar as balanças. É que o mercado editorial, talvez inspirado nessas lojas gastro-culturais, tornou-se produtor de comida, perdão, literatura a quilo: uma mistura, às vezes indigesta, de sabores e intenções das mais variadas origens, num cardápio muito louco. Encontra-se em seus balcões desde obras clássicas da filosofia e da política, até as mais oportunistas coletâneas, de contos a receitas de bolos, chás, simpatias e... piadas! Nada contra, vou logo avisando. Adoro chás e piadas, que repasso aos meus pobres correspondentes de e-mail. Os portugueses sofrem, mas já soube através de meus dois leitores da terrinha, que os brasileiros também são muito maltratados nas piadas por lá. Talvez essa relação explique algumas rivalidades, como Rio/Sumpaulo, Lisboa/Porto e outras, das mais variadas magnitudes. É sempre bom dar uma risada, nem que seja uma risadinha, um sorriso, mesmo que indignado. Faz bem prá pele, pro córtex. Pro músculo cardíaco. Costumo rir sozinho, quando caminho na praia, das besteiras que invento por qualquer motivo. Não tenho o hábito de escrever para aproveitar depois, fico tentando me lembrar e xingando o alemão Herr Alzheimer. Não é culpa dele ainda, penso eu entre as tais risadinhas resignadas. Hoje, por exemplo, dei vários sorrisos desses ao ler as opiniões dos argentinos sobre o jogo de amanhã entre Fluminense e Boca Juniors, semifinal da Taça Libertadores da América. Ninguém naquela terra de convencidos de nascença acredita que o tricolor carioca possa derrotar o time argentino, nem em Buenos Aires nem no Rio de Janeiro. Dizem que o Boca pode até perder lá que vai se classificar no Maracanã, como o América do México fez com o Flamengo. Consideravam o São Paulo o adversário natural do Boca Juniors. Isso torna o Fluminense o franco-atirador, o criminoso frio e calculista, muito em voga nos dois países. Dei meu sorriso mais cruel, mas sem perder a graça. Como um Coringa que consegue beijar a mulher do Batman. Vamos ver quem vai rir por último!