sexta-feira, 27 de junho de 2008

EDUARDO BRAZÃO/HAMLET






Com a proliferação de "actores" que têm aparecido,talvez seja bom lembrar,com a ajuda de GOMES MONTEIRO,as palavras do grande EDUARDO BRAZÃO explicando a sua preparação para "fazer" Hamlet.
Isto é "respigado" de Agosto de 1924 e mantenho o excerto do texto,com a grafia de então.
Quando um dia me dispuz a interpretar o Hamlet,muitos amigos me rodearam pretendendo dissuadir-me do meu intento,que seria - afirmavam- a minha morte como actor.Houve até alguem,altamente cotado no meio teatral,que se abalançou a dizer-me sem mais cerimonias:
- "Deixa-te disso,pobre visionario.Pois quê?! O nosso publico comprehende lá o teatro de Shakspeare,todo cheio de filosofias bizarras?! Não penses nisso,sequer.O teu arrojo poderia custar-te todo o espolio de arte que tens reunido durante os teus esperançosos vinte anos de vida teatral...Deixa-te disso!
Na verdade,estes e outros vaticinios,não eram de molde a encorajar-me na dificil tarefa a que me impuzéra.Em todo o caso,não desisti e lancei-me a estudar o papel com todo o afinco que em minhas fracas forças cabia. A's primeiras investidas convenci-me de que a empreza era bem mais trabalhosa do que eu supozéra...
Esse principe da Dinamarca era um personagem complexo,cuja psicologia se me antolhava confusa,inexplicavel,senão disparatada.
.....o sombrio heroi shakspeariano classificado como um sonhador idiota,um visionario melancólico e doentio,um doido sorumbatico,articulando palavras desconexas pintalgadas de profundissimos conceitos,mas sem uma finalidade logica.
...Levei dois anos a estudar o Hamlet,sempre contrariado pelas apreensões agoirentas de meus amigos,mas sempre esperançado em encontrar a tal finalidade logica,que,por certo,Shakspeare não deixaria de lhe ter dado.
Um dia,a senhora duqueza de Palmela,a quem eu revelára os primeiros sintomas do meu desalento,chamou-me a atenção para a fala que o Hamlet dirige,na explanada do castelo,aos seus amigos Horacio e Marcelo após a aparição do fantasma:
- Nessa fala - disse-me a ilustre titular tão nobre como artista - é que está a chave do misterio.Verifique...
...
Estava explicado o enigma até ali indecifravel.O Hamlet não era o doido que todos imaginavam e como tal interpretado por altas sumidades.
....

1 comentário:

Eduardo disse...

Muito interessante este texto do meu bisavô Eduardo Brazão. De vez em quando tento reunir alguns materiais esparços sobre ele. Na parede da sala tenho pendurada essa caricatura de Hamlet!

Cumprimentos,
Eduardo Brazão