quinta-feira, 5 de junho de 2008

FOI ONTEM!

Um grande jogo de futebol se conhece pelas lágrimas! Assim diria Nelson Rodrigues, assim digo eu, assim dirão todos os tricolores pelos próximos mil séculos, quando a superfície deste planeta estará transformada em campos esburacados de peladas intermináveis, incapaz de produzir nem um grão de soja, maldita seja! O que vimos ontem – no meu caso pela TV, pois não entro em fila nem pra receber beijos da Catherine Deneuve – foi um drama épico de superação para sobreviver: se o time tricolor saísse do Maracanã derrotado, podia vender a sede das Laranjeiras, encerrar as atividades esportivas e passaríamos a jogar damas na beira da praia. Mas os Deuses do esporte bretão não permitiram mais uma vez que isso acontecesse. Vencer a empáfia dos bosteiros era questão de vida ou morte, não só para nós, tricolores, como para todo o povo brasileiro, que desde 1963 não elimina o Boca Juniors da Taça Libertadores da América. Eu disse 1963! O último clube brasileiro que conseguiu essa proeza foi o Santos, com aquele time de Pelé & Cia. O Fluminense não tem nenhum Pelé, mas seu time poderia muito bem ser a Cia, superior em alguns setores, inferior em outros, depende do ponto de vista e da camisa do comentarista. Temos que levar em consideração o seguinte: não é fácil jogar sem um Pelé! Mas voltando ao nosso dia a dia, ontem sorvi mais uma garrafa de vinho argentino no jantar, seguida de dois italianos e um chileno, na saideira. Éramos quatro torcedores, dois tricolores e dois rubro-negros que não resistiram muito tempo na torcida xeneize e passaram a nos apoiar incondicionalmente. Alguém conhece um bom vinho equatoriano? Está virando tradição... Como eu dizia ontem, mais uma vez Fernando Henrique fez a sua parte com técnica (aquela peculiar mania de defender com todas as partes do corpo e da alma) e sorte, mas uma sorte previsível: as bolas que passaram por ele encontraram os pés milagrosos do Thiago Silva. E, como eu dizia depois da Batalha de Buenos Aires, a fragilidade da defesa do Boca Juniors explica sua pressão para manter o jogo no campo do adversário. Só que ninguém agüenta os noventa minutos pressionando, catimbando, correndo feito louco, leões em volta da caça que vai dissimulando, fingindo que não vê e guardando pernas pra hora decisiva. O gol do Palermo foi a única prenda conseguida pela tática predadora dos argentinos. Ao reagir, o Fluminense convenceu-se de que seu ataque era muito superior àquela defesa ociosa. E foi o suficiente para fazer os três gols e perder mais alguns. Em 1995 o Fluminense jogou a semifinal do Campeonato Brasileiro contra o Santos, que era o franco favorito. Está certo que o tricolor era o campeão carioca – e venceu no ano do centenário do Flamengo – mas os paulistas sempre se acham favoritos. No primeiro jogo, no Maracanã, demos de goleada: 4 x 1. No segundo, no estádio do Pacaembu, deu Santos 5 x 2. Sobreviveram dois personagens dessa tragédia e um deles é o Renato Gaúcho, o único que aprendeu com o episódio e agora, como técnico, não deixou que a euforia com a eliminação do São Paulo e a boa atuação em Buenos Aires subisse à cabeça dos seus jogadores.O Fluminense jogou com humildade e determinação, soube superar suas deficiências e vencer uma grande batalha – mas a guerra continua, agora contra o esquadrão bolivariano. O jogo de ontem será lembrado em cada dia de vida dos tricolores e seus descendentes, com um sorriso de felicidade que não os deixará dizer “parece que foi ontem”. Porque sempre parecerá que foi hoje!

1 comentário:

Anónimo disse...

Torcedor (e sofredor) até dizer caramba!
mc

PS: e parabéns, claro!
Um abraço? Qual quê! Um abração