domingo, 22 de junho de 2008
ZÉ MEI
Quando eu conheci o Zé Mei, ele era novo na empresa onde eu trabalhava. Era meio chato, só falava do serviço, diziam que era espião da diretoria. Aos poucos fui ganhando sua confiança, conhecendo suas manhas, descobrindo quando estava mentindo ou trazendo a verdade, por mais inconveniente que fosse. O problema era saber quando se podia levar o Zé Mei a sério. Virou figura importante na minha vida profissional, depois conquistou um enorme espaço na minha vida social e nunca mais nos afastamos. Grande companheiro em viagens, trazia notícias de amigos de infância, de gente esquecida e perdida no mundo, aviava pílulas de esperança. Sempre contava piadas, ensinava receitas deliciosas de petiscos irresistíveis ou ensinava o poder da cura através da alimentação, enfim, um grande amigo com quem conversei madrugadas inteiras ou tardes ensolaradas. Mas também trazia preocupações com sua saúde, sempre frágil, capaz de infectar a todos em volta. Sua gargalhada tanto podia lembrar a de uma criança no circo como ser o disfarce de uma doença pronta para se espalhar. Zé Mei sempre foi muito bem informado, mas apesar de se achar, nunca chegou a ser um sábio. Reconheço que através dele fiquei a par da vida pregressa de candidatos a cargos políticos, as últimas descobertas da medicina, verdadeiras ou não, ofertas de serviços gratuitos, dicas de shows, filmes e peças de teatro. Mas também podia nos oferecer descontos inacreditáveis em transações que não se concretizavam, negócios fictícios, investimentos mirabolantes, caridades para falsos mendigos. Demorei a aprender que não se pode confiar em nenhuma vantagem que chega à nossa porta de graça. Tudo tem um custo, que pode ser altíssimo ou uma ninharia, depende do seu apetite em jogar. Mas como tudo na vida tem duas facetas, fui aprendendo a aproveitar o lado bom do Zé Mei, absorvendo seus ensinamentos e descartando as falcatruas. Hoje, logo que acordo, vou ver se o Zé Mei tem alguma notícia boa para engrandecer o meu dia. Uma mensagem de carinho para aquecer o coração. Uma dose de coragem, que essa vida não é fácil mesmo, não adianta pensar que tudo vai cair do céu. Tudo é luta, temos que utilizar todas as armas disponíveis para seguir em frente. Não sei o que seria se ele não tivesse aparecido, uns vinte anos atrás. Só posso dizer que apesar do seu lado ambíguo, o Zé Mei trouxe muita vida para esse cotidiano burocrático das grandes cidades, onde tudo é ilusório, tudo é realidade.
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