Um grande jogo de futebol se conhece pelas lágrimas! Assim diria Nelson Rodrigues, assim digo eu, assim dirão todos os tricolores pelos próximos mil séculos, quando a superfície deste planeta estará transformada em campos esburacados de peladas intermináveis, incapaz de produzir nem um grão de soja, maldita seja! O que vimos ontem – no meu caso pela TV, pois não entro em fila nem pra receber beijos da Catherine Deneuve – foi um drama épico de superação para sobreviver: se o time tricolor saísse do Maracanã derrotado, podia vender a sede das Laranjeiras, encerrar as atividades esportivas e passaríamos a jogar damas na beira da praia. Mas os Deuses do esporte bretão não permitiram mais uma vez que isso acontecesse. Vencer a empáfia dos bosteiros era questão de vida ou morte, não só para nós, tricolores, como para todo o povo brasileiro, que desde 1963 não elimina o Boca Juniors da Taça Libertadores da América. Eu disse 1963! O último clube brasileiro que conseguiu essa proeza foi o Santos, com aquele time de Pelé & Cia. O Fluminense não tem nenhum Pelé, mas seu time poderia muito bem ser a Cia, superior em alguns setores, inferior em outros, depende do ponto de vista e da camisa do comentarista. Temos que levar em consideração o seguinte: não é fácil jogar sem um Pelé! Mas voltando ao nosso dia a dia, ontem sorvi mais uma garrafa de vinho argentino no jantar, seguida de dois italianos e um chileno, na saideira. Éramos quatro torcedores, dois tricolores e dois rubro-negros que não resistiram muito tempo na torcida xeneize e passaram a nos apoiar incondicionalmente. Alguém conhece um bom vinho equatoriano? Está virando tradição... Como eu dizia ontem, mais uma vez Fernando Henrique fez a sua parte com técnica (aquela peculiar mania de defender com todas as partes do corpo e da alma) e sorte, mas uma sorte previsível: as bolas que passaram por ele encontraram os pés milagrosos do Thiago Silva. E, como eu dizia depois da Batalha de Buenos Aires, a fragilidade da defesa do Boca Juniors explica sua pressão para manter o jogo no campo do adversário. Só que ninguém agüenta os noventa minutos pressionando, catimbando, correndo feito louco, leões em volta da caça que vai dissimulando, fingindo que não vê e guardando pernas pra hora decisiva. O gol do Palermo foi a única prenda conseguida pela tática predadora dos argentinos. Ao reagir, o Fluminense convenceu-se de que seu ataque era muito superior àquela defesa ociosa. E foi o suficiente para fazer os três gols e perder mais alguns. Em 1995 o Fluminense jogou a semifinal do Campeonato Brasileiro contra o Santos, que era o franco favorito. Está certo que o tricolor era o campeão carioca – e venceu no ano do centenário do Flamengo – mas os paulistas sempre se acham favoritos. No primeiro jogo, no Maracanã, demos de goleada: 4 x 1. No segundo, no estádio do Pacaembu, deu Santos 5 x 2. Sobreviveram dois personagens dessa tragédia e um deles é o Renato Gaúcho, o único que aprendeu com o episódio e agora, como técnico, não deixou que a euforia com a eliminação do São Paulo e a boa atuação em Buenos Aires subisse à cabeça dos seus jogadores.O Fluminense jogou com humildade e determinação, soube superar suas deficiências e vencer uma grande batalha – mas a guerra continua, agora contra o esquadrão bolivariano. O jogo de ontem será lembrado em cada dia de vida dos tricolores e seus descendentes, com um sorriso de felicidade que não os deixará dizer “parece que foi ontem”. Porque sempre parecerá que foi hoje!
1 comentário:
Torcedor (e sofredor) até dizer caramba!
mc
PS: e parabéns, claro!
Um abraço? Qual quê! Um abração
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